As incertezas do mercado mundial deverão continuar no próximo ano. O certo, por enquanto, é que o crescimento do mercado de lácteos deverá ocorrer mais pelo aumento da população e menos pelo aumento do consumo
Os principais fatos que ocorrem na produção mundial de leite e os estudos sobre o futuro do setor são acompanhados e realizados por várias instituições. Uma delas é o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que estimou para este ano que está se encerrando uma redução da produção de leite no mundo, se comparada ao que foi produzido em 2015, em especial, na Nova Zelândia, Austrália e Argentina, que são países exportadores de lácteos, e retração também no Brasil, um país considerado importador.
Para o CNiel-Centro Nacional Interprofissional de Economia Leiteira da França, a produção de leite no ano passado reduziu significativamente, em especial, nos países do Hemisfério Sul. Para este ano que está findando, a redução no volume ofertado deverá continuar e destaca o Brasil, Uruguai, Chile, Austrália e Nova Zelândia, com volumes de produção menores que os alcançados em 2015. Na Argentina houve crescimento de 2,8% no ano passado, porém a estimativa é de redução de 11% neste ano (tabela 1).
Ainda segundo a CNiel, a produção de leite deverá crescer nos países da União Europeia e nos Estados Unidos, que são exportadores, e no México e Japão, que são importadores de lácteos. Nos 28 países da União Europeia, a produção de leite cresceu 4,1% considerando os últimos 12 meses, de setembro de 2015 a setembro de 2016.
Para o Rabobank, a Nova Zelândia, que detém 28% do mercado mundial, não deve avançar na produção de leite porque a incorporação de terras pela atividade é limitada e as variações climáticas estão cada dia mais severas, prejudicando a produção. Na Europa deverá ocorrer estabilização da produção, e nos Estados Unidos, um aumento acompanhado de crescimento da demanda interna e, portanto, menor disponibilidade de lácteos para o mercado internacional.
Nos próximos anos, as previsões indicam que o mercado de lácteos deverá seguir principalmente as rotas dos acordos comerciais entre os países em detrimento do mercado global individual. No Brasil a redução da produção em 2015 se deu em função do forte aumento dos custos de produção e do clima desfavorável em algumas regiões produtoras, e essa tendência foi mantida no início deste ano.
Oferta, demanda e preço ao produtor
O clima e o preço do leite são fatores determinantes para o sucesso da atividade leiteira. Os fatores climáticos mais importantes são a disponibilidade de água e temperaturas amenas para produção de forragem destinada à alimentação do rebanho. Sobre o preço do leite pago ao produtor determina-se o ganho obtido por litro de leite, ou seja, a diferença entre o preço recebido e o custo de produção.
A variação do preço do leite pago ao produtor ocorre no mundo todo e está mais relacionada à oferta e à demanda do produto no mercado internacional do que ao custo de produção. Nos países exportadores e importadores, observa-se a oscilação do preço do leite ao longo do ano. Por exemplo, nos Estados Unidos, que participam do mercado internacional como exportadores e importadores, nota-se variação de preço nos últimos anos (figura 1). Em 2016, reduziu nos cinco primeiros meses do ano, atingindo um valor médio de 0,29 e, em seguida, voltou a crescer, ficando próximo de 0,35 em agosto. Na China, que é importadora de lácteos, o preço médio em 2014 e 2015 foi de 0,52; em 2016, reduziu para 0,45 em setembro, como se observa na figura 2.
O preço do leite ao produtor é um reflexo do comportamento registrado no mercado mundial. Na Oceania, o leite em pó foi negociado a US$ 4.000/t no início de 2011, chegou a US$ 4.700/t em março, e iniciou um período de queda até meados de 2012, quando voltou a subir para US$ 5.700/t em abril de 2013. Em 2014 houve redução e chegou a US$ 2.400/t. Já em 2015 oscilou entre US$ 1.800/t e US$ 3.400/t, e em 2016 se observou uma recuperação dos preços, e no mês passado, em outubro, esteve próximo de US$ 3.000/t (figura 3). A variação do preço do queijo cheddar acompanhou o leite em pó, porém com amplitude menor. No leilão GDT, no início de novembro, ocorreu nova alta e o preço médio dos lácteos ficou em US$ 3.500/t.
Na tabela 2 está o volume de lácteos negociados no mercado internacional por alguns países. Em 2015, o grande volume de leite em pó integral, 1,449 milhão de t, foi produzido na Nova Zelândia, e o comprador foi principalmente a China. A União Europeia e os Estados Unidos venderam mais o leite em pó desnatado, também para os chineses e outros países. Os maiores exportadores de queijos foram os países da União Europeia, que venderam para Rússia e Japão. A manteiga da Nova Zelândia foi comercializada também com a Rússia. O soro de leite em pó, produzido nos Estados Unidos e Europa, foi quase todo para a China.
Segundo recente relatório do Rabobank, o mercado mundial de lácteos continuará com dias difíceis. O comércio de lácteos deverá diminuir ligeiramente depois de um avanço de apenas 0,3% entre 2014 e 2015, resultado do embargo comercial russo, da desaceleração do crescimento da China, da redução dos preços do petróleo e do fortalecimento do dólar, além do aumento da produção de leite, após o fim das cotas na União Europeia.
O mercado de lácteos deverá crescer a uma taxa menor do que nos anos recentes porque as questões mencionadas ainda não foram solucionadas. Para o Rabobank, as incertezas do mercado mundial deverão continuar no próximo ano, com a posse de Donald Trump nos EUA e a anulação prometida da Parceria Transpacífico, a relação comercial entre americanos e russos e o desempenho da economia chinesa, fatores que serão determinantes para o comércio internacional. O certo, por enquanto, é que o crescimento do mercado de lácteos deverá se dar mais pelo aumento da população e menos pelo aumento do consumo.