O ano que passou acumulou fatos relevantes no mercado lácteo. O recuo das compras pela China e o embargo da Rússia, juntamente com alguns outros fatos, podem definir uma nova ordem em 2016
Em 2015, o comércio internacional de lácteos foi dinâmico e tentou equilibrar a desaceleração das compras chinesas e o embargo russo, segundo relatório divulgado pelo Centro Nacional Interprofissional de Economia Leiteira-Cniel, da França. Alguns fatos relevantes, citados no documento, sobre a produção, o comércio internacional e os principais investimentos realizados, podem ter reflexos neste ano que se inicia.
Por aqui, já se fala que o Brasil precisa atuar de forma mais agressiva na exportação para compensar a retração que deverá ocorrer no mercado doméstico de lácteos, decorrente da crise financeira e política vivida pelo País.
Os principais países participantes do mercado internacional de lácteos estão destacados na figura 1. Observa-se que entre eles, os países da União Europeia, os Estados Unidos e a Austrália, que são exportadores, tiveram crescimento da produção de leite. A Nova Zelândia, o Uruguai, Chile e a Argentina, que também são fornecedores para o mercado mundial, tiveram redução do volume produzido em dez meses de 2015 (figuras 1 e 2).
A produção de leite cresceu também em países importadores de lácteos, como foi o caso do Japão e do México. O Brasil e a Rússia, que estão no grupo dos que compram lácteos, reduziram a produção. Segundo o Cniel, a produção brasileira reduziu 1,8% no primeiro semestre de 2015.
A produção de leite é cíclica (como pode ser observado na figura 2) para os cinco principais países fornecedores de lácteos para o mercado mundial, no período de 2013 a outubro de 2015. Porém, nos Estados Unidos, o volume produzido aumentou na maioria dos meses do período considerado. Na Argentina a produção reduziu principalmente em 2014. O leite da Nova Zelândia tem uma forte dependência da disponibilidade de pastos para alimentação do rebanho e como consequência se observou uma variação cíclica da produção, acompanhando as variações climáticas.
Na Europa a produção cresceu 1,5% nos dez primeiros meses de 2015, apesar dos sinais de preços menores, em vários países membros da UE, como na Irlanda, Holanda, Bélgica e Hungria, que tiveram crescimento elevado, principalmente em outubro de 2015.
Entre os fatos relevantes do comércio exterior em 2015 esteve o crescimento da exportação de leite em pó desnatado da União Europeia, em 8%; da Nova Zelândia, 7%, e da Austrália, 34%. A Argentina reduziu as vendas do desnatado em 22% em nove meses de 2015 (tabela 1). O queijo seguiu a mesma tendência de exportação que o leite em pó desnatado, com redução maior da Argentina, 19%, e dos Estados Unidos, 15%.
Entre os países importadores de lácteos, a China teve redução de 23% do volume de leite em pó desnatado e de 52% do pó integral em dez meses de 2015. A Rússia reduziu em 44% a compra de queijo, e em 32%, de manteiga. No período de nove meses de 2015, o Brasil aumentou a importação de leite em pó integral em 118%.
Destaques no plano dos laticínios
Os fatos relevantes do setor industrial ocorridos em 2015, ou que estão em andamento, foram:
– Na Holanda, a Danone está investindo 240 milhões numa nova fábrica para a sua divisão de nutrição infantil. A indústria começará a produção em 2017 e deverá permitir à empresa dobrar a capacidade naquele país. A Friesland Campina está aumentando a capacidade de produção da fábrica em Borculo, também especializada na produção de alimentos infantis. A expansão permitirá atender à crescente demanda global para esse tipo de produto.
– No Reino Unido, a cooperativa First Milk vendeu a fábrica de Glenfield para a Graham´s Dairy, como parte das ações de recuperação para compensar as perdas em 2014.
– Na Rússia, a Hochland anunciou um plano de investimento de 28 milhões, que pretende dobrar a produção com a modernização das linhas de produção na região de Belgorod. A Molochnay Ferma, que é uma das principais processadoras de laticínios no país, tem planos de investir 40 milhões na construção de uma nova planta de produtos lácteos em Saint Petersburg. O laticínio terá capacidade de processamento de 35 milhões de litros/ano. O investimento também inclui a implantação de uma fazenda com 2 mil vacas. O Complexo Agrícola Tkachev prevê investimento de 160 milhões na construção de uma planta de queijo na região de Krasnodar e deverá entrar em operação em 2017.
– A Fonterra, na Austrália, vai investir na fábrica de queijos em Stanhope no norte de Victoria. A produção deverá ser iniciada em 2017 e a estimativa é de produção anual de 45.000 t, que representa um aumento da capacidade de processamento de 50% em relação à atual planta. O soro de leite produzido será transformado na planta de Darnum, que é especializada na produção de alimentos infantis.
– Na Nova Zelândia, a Fonterra investiu na planta de Hautapuem Waikato para aumentar a capacidade de produção de lactoferrina, que é extraída a partir de leite desnatado ou do soro de leite.
– A Bel está investindo 7 milhões na Turquia em uma planta processadora para dobrar a capacidade de produção da fábrica em Corlu.
– Em Oman, a empresa Oman Investment Holding Co. lançou um plano de desenvolvimento para o setor leiteiro cuja meta é a construção de um sistema de produção de leite, previsto para começar em 2017, com um rebanho de 4 mil vacas, e a pretensão é de uma megafazenda de 25 mil vacas em 10 anos.
– Na Índia, a Coca-Cola, em parceria com a Dynamix, quer lançar suas bebidas lácteas no mercado local, não gaseificadas e com sabores. A Amul continua seu plano de desenvolvimento e deverá iniciar a produção de leite em pó com a instalação de duas novas torres de secagem, com capacidade de 150 t por dia nos próximos 18 meses. A fábrica de queijos alemães Hochland firmou parceria com a empresa de laticínios Parag Milk para entrar no mercado indiano. As empresas vão lançar o Go Almette na Índia, que será distribuído em domicilio por meio da rede existente da Parag Milk.
– Nos Estados Unidos, a Glanbia adquiriu a empresa Think Thin, que é líder no mercado de snacks. Esta aquisição faz parte da estratégia de desenvolvimento e posição no mercado de lanches em expansão no mundo. A Fonterra vendeu sua participação, de 50% na joint venture, para a Dairy Farmers of America. A Fonterra fornecerá ingredientes lácteos de valor agregado por meio da NZMP. A Select Milk Producers Inc. adquiriu, em Littlefield, no Texas, uma planta de processamento de lácteos com investimento de US$250 milhões.
– No Brasil, a Coca-Cola negocia a compra da empresa de laticínios Verde Campo. Esta aquisição faz parte da estratégia da multinacional de refrigerantes de entrar no mercado brasileiro em segmentos de produtos com valor agregado, como iogurte, queijo e sorvete. A Verde Campo atualmente produz iogurte e queijo.
– No continente africano, na Nigéria, a Ornua, que era a irlandesa Dairy Board, abriu um novo centro de condicionamento para os produtos Kerrygold na capital Lagos. A fábrica, que é uma joint-venture com a Fareast Mercantile, poderá facilitar as vendas de produtos irlandeses que serão exportados para a Nigéria e vendidos sob a marca Kerrygold.
– No Quênia, o IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola) investe para o desenvolvimento de pequenas explorações leiteiras para aumentar a produção. A Brookside Dairy começou a secagem de leite.
– Na Tanzânia e Etiópia, a ONG Land O’Lakes irá investir US$ 18,1 milhões, nos próximos cinco anos, para o desenvolvimento da produção de leite.
O crescimento da produção de leite no mundo, principalmente nos países exportadores de lácteos, os grandes processadores cada vez maiores e mais fortes, a modernização das indústrias e a inovação de produtos são fatores que poderão dificultar a entrada e permanência do Brasil em mercados importadores de lácteos.