Somente nos quatro primeiros meses do ano passado, a agropecuária respondeu por um quarto das exportações do país, alcançando US$ 25,8 bilhões, e em meio a uma safra recorde de grãos e um aumento no setor de exportações, mudanças climáticas deixam especialistas em alerta quanto à sustentabilidade hídrica e a importância de garantir que a água fornecida aos animais atenda aos padrões de qualidade estabelecidos pela Resolução CONAMA 2005 nº357/2005, assemelhando-se à água destinada ao consumo humano.
Uma pesquisa recente desenvolvida pelo departamento de zootecnia da USP em parceria com a PWTech, startup de purificação de água nomeada pela ONU como uma solução humanitária no acesso à água potável, reforça a importância da qualidade da água na preferência e desempenho dos bezerros leiteiros. O estudo feito com seis bezerras ofertou três tipos de água, a primeira purificada através de ultrafiltração (UF), a segunda, água corrente, e a terceira era uma água não tratada, proveniente de um poço local.
Com o passar de três dias, pode-se perceber a preferência das bezerras pela água tratada, evidenciando que fatores de qualidade da água podem sim ser percebidos pelos animais, como odor, sabor e sólidos dissolvidos, influenciando em sua quantidade de ingestão. A pesquisa destaca ainda que a qualidade da água não apenas afeta o consumo dos animais, mas também impacta diretamente no desenvolvimento ruminal e na resistência a patógenos, prejudicando o seu desempenho.
“A água é um recurso natural fundamental para a produção de bovinos de corte e de leite. O animal que não bebe água suficiente pode ter seu crescimento diretamente impactado, além de apresentar problemas de sanidade, influenciando o seu desempenho e prejudicando a qualidade da carne, o que gera perdas econômicas”, afirma Fernando Silva, CEO da PWTech.
Outro levantamento realizado pela ESALQ/USP com 149 fazendas dos estados de SP, MG e PR, em 2015, mostrou que 19% dos produtores forneciam água aos bezerros a partir de 15 dias de idade. Constatou-se que os bezerros têm que receber o consumo de água, desde o primeiro dia de vida, mas infelizmente muitos produtores só colocam água na segunda ou terceira semana. É necessário romper as crenças limitantes que neste período apenas o leite ou sucedâneo, são fundamentais.
“A água é um nutriente vital para o funcionamento do organismo, e sua qualidade é fundamental para a produção de carne e leite de qualidade, e deve ser ofertada já no primeiro dia de vida dos animais, logo após o nascimento. O atraso afeta diretamente as exigências hídricas, prejudicando as funções metabólicas”, acrescenta Fernando.
Ainda de acordo com o estudo, em situações de onde a água fornecida aos animais não for tratada, como as provenientes de lagos, rios ou poços subterrâneos, um sistema de purificação pode encorajar a maior ingestão de água pelos animais. “O equipamento usado no estudo funciona de maneira simples, captando água de rios, poços, represas, açudes, lagos e até mesmo vinda da chuva. Depois, a água passa por um clorador, três filtros e uma membrana de ultrafiltração, tornando-se assim, potável”, finaliza o CEO da startup.
Atuando na regulação do metabolismo, na digestão, na absorção de nutrientes, na produção e transporte de metabólitos na corrente sanguínea, na respiração, na excreção de resíduos, na termorregulação, no crescimento e na reprodução, a água é um elemento fundamental. Mas embora seja essencial, sua exigência tem sido desvalorizada em comparação aos demais nutrientes.