O QUE FAZER COM O COLOSTRO DE BAIXA OU MÉDIA QUALIDADE?
É fundamental que as bezerras recebam colostro de alta qualidade
Os substitutos de colostro que possuem na sua composição somente colostro natura, podem se tornar uma alternativa importante para substituição ou suplementação da colostragem na fazenda
Rafael Azevedo
O fornecimento do colostro nas primeiras horas de vida é o principal exemplo de transferência de imunidade passiva aos recém-nascidos. Ao nascerem, os bovinos não possuem o sistema imune maturo e são incapazes de produzir anticorpos hábeis para os desafios do novo ambiente. Dessa forma, o recém-nascido depende 100% do consumo do colostro para a obtenção de anticorpos.
Composto por uma mistura de secreções lácteas e constituintes do soro sanguíneo, o colostro é excretado pelas glândulas mamárias logo após o parto e cumpre importante papel no desenvolvimento do animal, executando além da função imunológica, a função nutricional e de regulação da temperatura corporal. Portanto, a colostragem correta resultará em menores taxas de mortalidade e morbidade, além de favorecer o desenvolvimento e desempenho durante toda a vida do animal.
A mortalidade de bezerras nos primeiros dias de vida é uma das principais causas de perdas econômicas na bovinocultura leiteira, tendo a falha de transferência de imunidade passiva (FTP) como uma das mais relevantes explicações para isso. Com o objetivo de evitar essa falha, devem-se observar três pontos importantes: tempo para o fornecimento, qualidade do colostro e a quantidade ingerida. O recomendado é que o recém-nascido receba no mínimo 10% do seu peso corporal ao nascimento de colostro de qualidade, com concentrações de imunoglobulinas superiores a 50 g/L logo após o nascimento, não ultrapassando as primeiras quatro horas pós-parto. Atentando-se também a outro ponto significativo como a qualidade sanitária, relacionado à ausência de microrganismos.
Neste caso, é importante lembrar que diversos fatores como o tempo de secagem, estresse térmico, dietas, histórico de vacinações e doenças influenciam na produção do colostro. E entende-se também que novilhas produzem colostro com menores concentrações de imunoglobulinas quando comparadas a animais com maior número de parições. Dessa forma, sabemos que muitas fazendas, enfrentam desafios quanto à colostragem dos seus animais, os quais variam entre colostros de qualidade e/ou em quantidade suficiente. E como estratégia para minimizar a essa adversidade, a utilização de substitutos de colostro que possuem na sua composição somente colostro natural, podem se tornar uma alternativa importante para substituição ou suplementação da colostragem na fazenda.
O enriquecimento do colostro materno hoje se torna uma das melhores formas de utilização do Colostro Bovino em Pó natural disponível no mercado nacional. Esse manejo de utilização tem chamado a atenção de muitos criadores e técnicos, pois é um meio de proporcionar a utilização do colostro fresco de média e baixa qualidade, tornando-o em um colostro de alta qualidade, com um ótimo custo-benefício. Mas para realizar essa nova estratégia, é preciso que a fazenda avalie a qualidade do colostro materno ordenhado e que o mesmo esteja nas melhores condições sanitárias.
O melhor método de avaliação da qualidade imunológica do colostro é pela utilização de refratômetros do tipo Brix (óptico ou digital), pois esse equipamento é independente da temperatura do colostro fresco (diferente do colostrômetro), além de ser de fácil e rápida avaliação. A porcentagem de Brix é correlacionada com a concentração de IgG do colostro e, para a sua utilização, devemos considerar a seguinte escala de classificação:
Portanto, o colostro que apresentar leitura inferior a 22% de Brix não deve ser fornecido às bezerras na primeira mamada, a não ser que o enriqueça. O enriquecimento do colostro materno a partir da avaliação por refratômetro Brix funciona da seguinte forma: deve-se adicionar apenas 15 gramas de Colostro Bovino em Pó em 1 litro de colostro fresco para aumentar 1% do grau Brix (Tabela 1).
Tabela 1. Quantidade de colostro em pó para ser adicionado em um litro de colostro fresco materno para aumentar o valor do Brix (%).
Atualmente, algumas propriedades estão adotando padrões acima de 22% de Brix para aumentar a margem de segurança na colostragem dos seus animais, como a fazenda Frank’anna e Melkstad, no Paraná, os quais padronizam entre 25% e 30% o valor do Brix de todo o colostro enriquecido, respectivamente.
“Coletamos o colostro de primíparas e multíparas que são submetidas a um rigoroso calendário sanitário. Após a coleta, a qualidade do colostro é mensurada pelo refratômetro de Brix e os resultados inferiores a 24% enriquecemos com o Colostro Bovino em Pó utilizando 15 gramas por litro para aumentar 1% de Brix. Por exemplo, se um colostro mensurado apresentar 22% de Brix, acrescentamos 30 gramas por litro para chegar nos 24% de Brix desejado. Realizando esta estratégia, fornecemos ao recém- nascido um volume de 20% do peso vivo nas primeiras horas de vida, e o excedente enriquecido é congelado. Fazemos esse procedimento, pois em torno de 20% dos nossos animais apresentam colostros inferiores a 24% de Brix, além disso, aumentamos o volume de fornecimento ao recém-nascido e muita das vezes tínhamos que administrar colostros com qualidade inferior”, Luis Fernando Moroz, responsável técnico da Fazenda Frank’anna.
Outro ponto que chama bastante atenção é que, após o enriquecimento, esse colostro pode ser congelado (-20ºC) em pequenas porções, de forma higiênica e com identificação (até três meses se utilizado freezer frost free, ou em até um ano quando congelado em freezer non-frost free), proporcionando a criação de banco de colostro somente com colostros de alta qualidade e sem o descarte de colostros de média e baixa qualidade. A fazenda Frank’anna adotou esse manejo em maio de 2018 e já vem coletando ótimos resultados (Gráfico I).
“Hoje, realizando o enriquecimento, aproveitamos 100% dos colostros produzidos na propriedade, e com garantia de um banco de colostro de extrema qualidade. Realizando a mensuração de IgG sérica das bezerras, observamos que o enriquecimento alinhado a outras mudanças no manejo elevou a eficácia da colostragem de 80% para 95% na propriedade, resultando em bezerras mais bem preparadas para enfrentar os desafios que serão submetidas”, destaca Luís Fernando Moroz, responsável técnico da Fazenda Frank’anna.
Gráfico I. Eficiência de colostragem da fazenda Frank’anna de janeiro de 2017 a agosto de
2018.
Outra fazenda que vem obtendo excelentes resultados é a fazenda MelkStad, Paraná, a qual avaliou 567 bezerros de janeiro a agosto de 2018, e observou melhores resultados quando começaram a enriquecer o colostro materno a partir de maio de 2018 (Gráfico II). “Na fazenda as vacas são ordenhadas pós-parto, e posteriormente é realizada a avaliação da qualidade imunológica do colostro utilizando o refratômetro de Brix, esse colostro é pasteurizado e congelado. Quando a bezerra nasce, adensamos aqueles colostros que apresentam avaliação <22% de Brix, com o colostro em pó da Alta para 28 a 30% Brix. Os resultados foram impressionantes, reduzimos os custos e mantivemos a qualidade na eficiência da colostragem”, diz Márcio Geraldo Hamm, gerente operacional da Fazenda Melkstad.
Gráfico II. Média da proteína sérica mensal na fazenda MelkStad de janeiro a julho de 2018.
Fazendas que utilizam o colostrômetro para avaliação da qualidade imunológica, deverão seguir as seguintes orientações:
Conseguir aproveitar o colostro que não tinha a qualidade mínima para o fornecimento para as recém-nascidas ou enriquecer o colostro da fazenda para valores de qualidade acima do recomendado, se tornam estratégias muito importantes para a utilização do Colostro Bovino em Pó nas fazendas nacionais. Assim, este produto que está revolucionando a criação de bezerras leiteiras, ganha uma nova alternativa de utilização, facilitando ainda mais a vida do produtor.
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Rafael Azevedo é coordenador e conselheiro do Programa Alta CRIA