No Brasil, empresas do setor apostam em aquisições e associações, tendência que se observa também em outras partes do mundo, buscando redução de custos e garantia de mercado
O Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite, com 35 bilhões de litros/ano. Em 2016, o volume captado para processamento em indústrias de laticínios do País foi de 23 bilhões de litros. O volume de leite que entra na indústria – chamado de “leite SIF” – tem reduzido nos últimos anos. Em 2014, o percentual captado em relação à produção total foi de 70%, caiu para 69% em 2015 e em 2016 reduziu para 66%, segundo dados disponibilizados pela Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE.
Apesar da diminuição do volume total captado nas oito maiores indústrias de laticínios, cresceu a compra do leite nos últimos três anos. A quantidade total adquirida pelas maiores em 2014 foi de 7,8 bilhões de litros e passou para 7,9 bilhões de litros em 2015. As empresas que mais aumentaram o volume comprado foram Lactalis/Elebat, em 11,8%; Vigor, 51,8%, e as três cooperativas juntas, Castrolanda, Batavo e Capal, que praticam um modelo de intercooperação e aumentaram em 13,7%.
Na figura 1 pode ser observado que entre as oito maiores ocorreu redução na compra de leite na Nestlé, de 11,6%; na CCPR/Itambé, de 4,4%, e na Aurora, de 7,3%, de acordo com o levantamento realizado pela Leite Brasil.
Ainda considerando as oito maiores companhias que atuam no Brasil, as empresas que reduziram o volume captado, Aurora, CCP/Itambé e Nestlé, diminuíram também o número de fornecedores. As outras cinco empresas aumentaram o volume e o número de fornecedores, em diferentes percentuais dos valores de 2014 em relação a 2015.
O número de produtores que vendeu leite para as empresas mencionadas foi de 42.980. Chama a atenção a Aurora, que aumentou em 51,8% o volume de leite e em apenas 8,0% o número de fornecedores, e o Laticínios Bela Vista, que aumentou em 2,5% o volume adquirido com 18,4% a mais no número de produtores, como se observa na figura 2.
Associações e aquisições entre as indústrias
A globalização que torna os mercados mais competitivos, a instabilidade econômica e o poder de compra da população refletem no consumo de derivados lácteos, colocando os produtores, as empresas e os consumidores em situação de alerta. Não só no Brasil, mas no mundo todo, a maioria das indústrias atua realizando associações e aquisições com o objetivo de reduzir custos e continuar crescendo.
No Brasil, a empresa suíça Emmi adquiriu 40% da participação no Laticínio Porto Alegre, localizado na Zona da Mata de Minas Gerais. Com essa operação, o laticínio mineiro acelera seus planos de crescimento e a Emmi inicia sua estratégia de entrada no País. No último relatório do CNIEL, de abril de 2017, foi citado que a Lactalis confirmou o interesse em adquirir a cooperativa argentina Sancor, que está em crise.
Outras associações e incorporações recentes, envolvendo as indústrias de laticínios, também relatadas pelo CNIEL, foram: a francesa Danone, que ocupa a nona posição no ranking das maiores indústrias brasileiras, vendeu sua subsidiária Stonyfield Farm e adquiriu a WhiteWave Foods, que é especializada em produtos lácteos orgânicos.
No continente asiático, a gigante Huishan Dairy, na China, que vive um momento turbulento financeiramente, está reduzindo suas atividades e buscando alternativas para resolver o tal impasse. No Sri Lanka, a Cargill Ceylon inaugurou uma usina de produtos lácteos, que é a maior do país em termos de volume captado.
Além das aquisições e associações do setor industrial, no setor produtivo também se observam mudanças. Por exemplo, no Vietnã, a Vinamilk investiu na primeira fazenda de leite orgânico, seguindo as normas europeias, e implantou 10 sistemas de produção, com 500 vacas em lactação em cada núcleo, para produção de leite orgânico, para atender à demanda do mercado mundial.
Empresas europeias, as maiores – A americana Brookside, em Uganda, investiu na renovação de sua usina de lácteos, em Kampala, para atender ao mercado africano. Em Ruanda, o Ministério da Agricultura lançou um projeto, de US$ 65 milhões, para o desenvolvimento da produção de leite e processamento de lácteos. Ainda no continente africano, na Tanzânia, a Danone pretende se tornar a acionista majoritária da filial da Kenyan Brookside Dairy.
Na Europa também ocorrem mudanças no setor industrial e produtivo. Na França, a Laïta investiu 80 milhões em uma nova planta, com capacidade para processar 20 mil t de leite em pó por ano. Na Espanha, a TGT investiu em uma fábrica de queijos e está construindo um sistema de produção para abrigar 20 mil vacas em lactação, chamado de Valle de Odieta, em 3 mil hectares de pastagem parcialmente irrigadas e com produção estimada em 580 mil litros/dia.
O Rabobank fez um levantamento das grandes indústrias de lácteos no mundo, classificando-as de acordo com o faturamento em 2013, listadas na tabela 1. Quando comparou os resultados com os de anos anteriores, verificou mudanças de posição no ranking, fato este que ocorre pela fragilidade da economia e por limitações de oferta da matéria-prima. Observa-se que cinco das maiores empresas no mundo são europeias, duas delas são americanas, uma é da Nova Zelândia, outra é do Canadá, e outra ainda, é chinesa.
As mudanças do setor leiteiro nacional e mundial ocorrem para a sustentabilidade econômica, sempre buscando redução dos custos e garantias de mercado. No Brasil, produtores e indústrias de laticínios estão trilhando o mesmo caminho.
As condições ainda desfavoráveis dos mercados de trabalho e de crédito dificultam uma retomada mais expressiva do consumo das famílias brasileiras, principalmente dos lácteos, que estão diretamente relacionados ao poder de compra da população. Com a quarta maior produção de leite do mundo e os movimentos de consolidação do setor em andamento, parece natural antever que processos de concentração da produção e de processamento de lácteos serão acelerados e que o Brasil se fortalecerá no leite.