A pecuária leiteira no País desfruta de situação natural privilegiada quanto ao bem-estar animal, mas é preciso estar atento ao manejo para que o fator dor não comprometa a exploração
Por Luiz H. Pitombo
Como ruminante, ao pastejar, o bovino tem a possibilidade de apresentar um comportamento natural muito favorável ao seu bem-estar, conquistando equilíbrio em seu organismo, o que o ajuda a expressar todo seu potencial produtivo. Contudo, isto de nada valerá caso não haja forrageira disponível no campo para atender às suas necessidades básicas. Há quem fale que o bem-estar é como uma ‘esquina da propriedade’, para onde os vários fatores da atividade confluem, incluindo a própria gestão do negócio.
Na avaliação da médica veterinária Carla Molento, professora e coordenadora do Laboratório de Bem-Estar Animal da UFPR-Universidade Federal do Paraná, apesar dos problemas ainda existentes nas fazendas, a produção de leite no País têm melhorado nos chamados problemas evitáveis, que são comuns aos diferentes sistemas de produção, tais como o manejo sanitário e a própria alimentação dos rebanhos.
“Mas é necessário avançar mais”, salienta. E entre os aspectos que aponta estão os que têm correlação com a produção, sendo o principal deles a mastite. No âmbito da exploração leiteira de alta tecnificação, acrescenta a questão da claudicação, que muitas vezes está associada à ausência de um casqueamento preventivo periódico. Ambas as doenças trazem incômodo e dor.
A pesquisadora, que também preside a Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal do CFMV-Conselho Federal de Medicina Veterinária, indica que melhorias acentuadas podem ocorrer ao se implantar nas fazendas um monitoramento e o registro de itens relacionados ao bem-estar animal e aos reflexos causados por alterações nas instalações como um novo piso, cama ou manejo, prática que nem sempre acontece.
Ela faz esta recomendação para que não se fique na dúvida e ocorra uma real avaliação e o direcionamento adequado das ações. “Observar o comportamento dos animais ajuda bastante o produtor a entender mais sobre bem-estar e obter respostas, pois são muitos os detalhes e se cria a oportunidade de ver onde estão os pontos críticos e as possibilidades de ajustes”, diz. A veterinária admite que esta é uma área de conhecimento nova e que por vezes existem dificuldades de se interpretar o comportamento animal, mas acredita que à medida que este conhecimento for consolidado se terá uma percepção mais clara.
A necessidade da realização de mais estudos dentro das condições nacionais é ressaltada pela especialista, que lembra que vários dos manejos tradicionais adotados foram importados da Europa e podem expressar preocupações pertinentes à outra condição. Por exemplo, aponta questões sanitárias ao se criar bezerras em baias individuais para evitar contágio, preferindo ela a criação dos animais em grupo onde este terá maior interação social, sem medo de outros animais.
Leia a íntegra desta matéria na edição Balde Branco 631, de maio 2017