Verdades e mitos sobre o bem-estar animal

bem-estar animal

O conceito de bem-estar animal tem ganhado destaque nos últimos anos, não apenas por sua importância ética, mas também por seus impactos diretos na produtividade, saúde animal e sustentabilidade dos sistemas de produção. No entanto, o tema ainda é cercado por desinformação e interpretações equivocadas que comprometem sua aplicação técnica e científica.

Para esclarecer os principais pontos, o coordenador de Bem-Estar Animal da MSD Saúde Animal, Filipe Dalla Costa, elencou seis aspectos fundamentais que devem ser compreendidos por produtores, consumidores e demais agentes da cadeia produtiva.

1. O bem-estar animal é uma ciência, e não uma opinião

O bem-estar animal é uma disciplina científica respaldada por evidências da etologia, fisiologia, zootecnia e medicina veterinária. Diferentemente de manifestações ideológicas ou ativistas, o bem-estarismo defende a produção de alimentos de origem animal com base em práticas éticas, priorizando a saúde e o respeito ao comportamento natural dos animais, ao mesmo tempo que considera a viabilidade econômica e ambiental dos sistemas de produção.

2. Não se trata de humanizar os animais

É incorreto associar bem-estar animal à humanização dos animais de produção. A proposta consiste em assegurar que cada espécie possa expressar seu comportamento natural de forma segura, saudável e produtiva. Espécies como suínos e aves, por exemplo, têm respostas instintivas de fuga ao contato físico excessivo, uma vez que são presas naturais. Assim, a abordagem correta envolve compreender as particularidades comportamentais de cada espécie para evitar estímulos que possam gerar estresse desnecessário.

3. Bem-estar vai além da ausência de dor

O conceito de bem-estar animal é multifatorial e abrange aspectos físicos, mentais e comportamentais. Envolve conforto térmico, liberdade de movimentos, nutrição adequada, possibilidade de interação com o meio e saúde integral. Avaliações de bem-estar devem considerar o ponto de vista do animal, baseado em respostas fisiológicas e comportamentais. O bem-estar não é um produto que pode ser comprado ou certificado de forma genérica — ele está intrinsecamente ligado ao estado individual de cada animal.

4. O manejo é determinante para o bem-estar

A forma como os animais são manejados impacta diretamente sua saúde, produtividade e comportamento. Interações negativas aumentam os riscos de acidentes, perdas produtivas e uso excessivo de medicamentos. O manejo de baixo estresse reduz perdas por contusões, fraturas e mortalidade, melhora o desempenho zootécnico e contribui para ambientes de trabalho mais seguros e eficientes.

5. Capacitação humana é essencial

Estruturas modernas e tecnologia não substituem a importância de profissionais capacitados. Investir em formação técnica contínua é um dos pilares para a melhoria do bem-estar animal. A qualificação dos trabalhadores reflete em melhores práticas de manejo, decisões mais conscientes e maior eficiência no uso de recursos. Além disso, a conscientização das equipes promove interações mais respeitosas com os animais e fortalece a credibilidade do sistema produtivo perante a sociedade.

6. Equipamentos modernos não garantem bem-estar por si só

A presença de tecnologia avançada nas propriedades não é, por si só, garantia de bem-estar. O estado de bem-estar animal depende da integração entre fatores como ambiência, alimentação, saúde, densidade populacional, qualidade das instalações e interações humano-animal. Sistemas simples, quando bem planejados e executados, também podem oferecer altos níveis de bem-estar. A chave está na gestão técnica, e não apenas na infraestrutura.

A adoção de boas práticas de bem-estar animal deve ser entendida como parte de uma estratégia técnica, ética e economicamente viável. Trata-se de um campo acessível, aplicável em diferentes escalas produtivas, e que contribui para sistemas mais sustentáveis, seguros e socialmente responsáveis.

A conscientização da sociedade e a demanda por rastreabilidade e transparência reforçam a necessidade de incorporar o bem-estar animal como princípio estruturante da produção agropecuária moderna.

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