Natália Grigol – pesquisadora do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea)
O preço do leite captado em abril registrou aumento de 5,1%, chegando a R$ 2,4576/litro na “Média Brasil” do Cepea. Essa é a sexta alta consecutiva e, com esse resultado, o preço ao produtor já acumula alta real de 18,7% desde janeiro (os valores foram deflacionados pelo IPCA de abril).
A valorização do leite ao produtor segue sendo explicada pela redução da produção. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou queda de 0,37% de para março para abril; no acumulando queda de -7,8% desde janeiro.
Além dos menores investimentos dentro da porteira no final do ano passado, o avanço da entressafra no Sudeste e Centro-Oeste e ao atraso da safra do Sul, devido ao clima adverso, têm prejudicado a oferta do leite cru. Consequentemente, a disputa entre laticínios e cooperativas por fornecedores para garantir o abastecimento de matéria-prima seguiu intensa, sustentando o movimento altista. E esse cenário deve se manter também em maio, reforçado pelas altas consideráveis nos preços do leite spot e pela especulação dos agentes de mercado, tendo em vista os impactos negativos das enchentes do Rio Grande do Sul sobre a atividade.
Contudo, esse movimento altista pode perder força a partir de junho devido a uma combinação de fatores. Primeiramente, a oferta do leite cru tende a se recuperar, ainda que de forma lenta e o incremento da margem do produtor, nos últimos meses, deve favorecer a captação.
Em segundo lugar, os laticínios encontram dificuldades em realizar o repasse da alta, no campo para os preços dos derivados. Os canais de distribuição seguiram pressionando as negociações com as indústrias para obter preços de lácteos mais baixos, o que resultou em variações pouco expressivas nas cotações do UHT, muçarela e leite em pó em abril. Com margem reduzida na venda dos derivados, especialmente os mais commoditizados, os laticínios podem ter dificuldades em manter o ritmo de altas ao produtor.
Além disso, as importações continuam sendo um fator de pressão sobre o mercado lácteo. Dados da Secex mostram que, de janeiro a abril, as compras externas somaram quase 774 milhões de litros em equivalente leite, 15% a mais que no mesmo período do ano passado.
INDICADOR PREÇO DO LEITE AO PRODUTOR CEPEA | ||||||||
Preços líquidos – não contém frete e impostos. Valores nominais. | ||||||||
BA | GO | MG | SP | PR | SC | RS | BRASIL | |
dez-23 | 2,0884 | 1,9942 | 1,9953 | 2,1409 | 2,1374 | 2,0668 | 2,0557 | 2,0335 |
jan-24 | 2,0958 | 2,1321 | 2,1105 | 2,2143 | 2,2392 | 2,1391 | 2,1244 | 2,1347 |
fev-24 | 2,1274 | 2,2382 | 2,2037 | 2,3048 | 2,3517 | 2,2524 | 2,2421 | 2,2347 |
mar-24 | 2,1507 | 2,3637 | 2,3116 | 2,3686 | 2,4202 | 2,3049 | 2,3443 | 2,3290 |
abr-24 | 2,2174 | 2,4576 | 2,4632 | 2,4563 | 2,5664 | 2,4289 | 2,4463 | 2,4576 |
variação mensal | 3,10% | 3,97% | 6,55% | 3,70% | 6,04% | 5,38% | 4,35% | 5,53% |
Nota: a partir de janeiro de 2023, o Cepea mudou a forma de nomear as informações que divulga, identificando os dados pelo mês da captação do leite cru, e não mais pelo mês do pagamento. Maiores informações estão disponibilizadas no site do Cepea. |