Em 2016, 9,4 milhões de t de manteiga foram consumidos no mundo, um recorde, que tem os EUA liderando a tendência


Kennya Siqueira, pesquisadora da Embrapa Gado de Leite

Apesar de ser um alimento conhecido e preparado pelo homem há mais de 10 mil anos, nos últimos tempos, a manteiga foi considerada a vilã e inimiga número 1 da saúde pública, por causa do seu teor de gordura, que chega a mais de 80%. A ciência considerava que o alto teor de gordura saturada da manteiga fosse prejudicial à saúde humana e contribuísse para o aumento do risco de doenças cardiovasculares. Com isso, a manteiga perdeu espaço nas prateleiras para a margarina.

Ao contrário da manteiga, a margarina não é um derivado lácteo. É um produto obtido via hidrogenação do óleo vegetal, ou seja, a incorporação de hidrogênio às moléculas de gordura. O resultado desse processo é um produto rico em gordura trans.

Durante muito tempo, esses dois produtos competiram pela preferência do mercado consumidor, especialmente no Brasil, onde o café da manhã típico consiste em pão francês acompanhado de manteiga ou margarina. Nos Estados Unidos, a margarina venceu a concorrência por cerca de 50 anos. Mas nos últimos tempos, o cenário se inverteu.

Descobertas científicas de que a gordura saturada da manteiga não está associada a problemas cardíacos como se pressupunha, aliado às novas preferências dos consumidores por produtos mais naturais e menos processados, impulsionaram seu consumo. Com isso, no país do tio Sam, a manteiga está voltando aos seus dias de glória e tendo o seu boom de consumo. Sendo usada em coquetéis, cafés, massas e pães, estima-se que o consumo americano aumente 8% este ano, atingindo 940 mil t.

Como os Estados Unidos são, geralmente, o ponto de partida das tendências mundiais de consumo de alimentos e bebidas, espera-se que este bom momento da manteiga ultrapasse as barreiras americanas para outros países, inclusive para o Brasil. Estima-se que o consumo brasileiro de manteiga aumente 3% em 2017, chegando a 90 mil t, o que corresponde a 0,9% do consumo mundial do produto. Dentre os produtos lácteos monitorados pelo USDA, essa taxa de crescimento de consumo no Brasil, só perde para a do leite fluido, que deve aumentar 5%.

Com isso, as oportunidades são muitas para a indústria de manteiga. Considerando-se as grandes empresas de laticínios, só nos Estados Unidos, em 2016, foram lançados 16 novos tipos de manteiga e todos os lançamentos seguem tendências marcantes de preferências do consumidor.

A maior parte dos produtos introduzidos no mercado americano apresenta sabores diversificados, voltados principalmente para o uso culinário. Nos últimos tempos, chefs e consumidores, de um modo geral, redescobriram a manteiga como ingrediente que confere não só gordura, como também sabor diferenciado aos pratos.

Outra parcela significativa dos lançamentos no segmento de manteiga teve foco na nutrição e saúde, que segundo as pesquisas com consumidores, tem sido um dos principais motivadores de consumo atualmente. Nessa linha foram lançadas manteigas sem sal, manteigas orgânicas e manteigas sem lactose.

Uma tendência observada nos lançamentos de manteiga nos Estados Unidos e que pode ser pensada também para o Brasil é a oferta de produtos voltados para o consumidor consciente, ou seja, aquele que quer saber o que está por trás do alimento consumido. Dois novos produtos têm como característica principal a oferta de manteiga produzida do leite de vacas criadas a pasto, sem hormônios e sem antibióticos. As pesquisas indicam que, atualmente, os produtos e marcas que são transparentes, ou seja, que mostram como são produzidos e processados têm mais chances de atrair os consumidores conscientes.

Neste cenário, pode-se dizer que é hora da indústria de laticínios brasileira investir e inovar para atender as necessidades do mercado consumidor que, apesar de enfrentar uma crise econômica, continua ávido por novidades, especialmente aquelas ligadas à saúde e bem-estar.

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