Mesmo com as dúvidas que ainda cercam o consumo de leite, o alimento segue amplamente reconhecido como seguro, nutritivo e recomendado para a maioria da população. Rico em proteínas de alto valor biológico, cálcio, vitaminas B2, B12 e D, o leite desempenha um papel fundamental na formação e manutenção da saúde óssea, muscular e metabólica, sendo parte importante da alimentação equilibrada ao longo da vida.
De acordo com um consenso técnico elaborado pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e pela Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), o produto lácteo continua sendo um dos alimentos mais relevantes do ponto de vista nutricional. O documento visa esclarecer equívocos que levam à retirada do leite da dieta sem necessidade clínica comprovada, o que pode resultar em deficiências nutricionais evitáveis.
A seguir, a nutricionista Dra. Aline David, mestre e doutora em Ciências pela USP, destaca os principais pontos que ajudam a desfazer mitos e orientar o consumo consciente:
1. O leite é seguro para a maioria das pessoas
Não há evidências científicas que justifiquem a exclusão do alimento de pessoas saudáveis. Casos como alergia à proteína do produto lácteo ou intolerância à lactose são específicos e requerem avaliação clínica profissional. Segundo a especialista, a exclusão baseada apenas em autodiagnóstico pode comprometer a ingestão adequada de nutrientes essenciais. “Muitos excluem o leite por autopercepção de intolerância, sem confirmação médica, o que prejudica a nutrição”, alerta a Dra. Aline.
2. APLV e intolerância à lactose são condições diferentes
A APLV é uma resposta imunológica às proteínas do produto lácteo e exige retirada completa do alimento e de seus derivados. Já a intolerância à lactose é uma condição fisiológica comum, causada pela redução da enzima lactase, podendo provocar desconforto digestivo. No entanto, muitas pessoas diagnosticadas conseguem tolerar pequenas quantidades ou utilizar alternativas como o leite sem lactose, conforme orientação profissional.
3. APLV é rara e geralmente desaparece na infância
Estudos indicam que cerca de 5,4% das crianças até 2 anos são afetadas pela APLV. No entanto, 87% superam a condição até os 3 anos, e 97% até os 15 anos. A Dra. Aline reforça a importância do acompanhamento médico: “O diagnóstico e a reintrodução do leite devem ser conduzidos por profissionais capacitados, evitando restrições prolongadas desnecessárias.”
4. Intolerância à lactose não exige exclusão total do produto lácteo
Pessoas diagnosticadas com intolerância geralmente toleram até 12g de lactose por dia, o equivalente a um copo do alimento (200 ml), que contém cerca de 8 a 10g. “É possível manter o produto lácteo na alimentação com estratégias como fracionamento das porções, consumo de derivados com menor teor de lactose ou uso de enzimas”, explica a especialista.
5. A retirada do leite deve ser sempre orientada por profissionais
A exclusão do leite sem critério técnico pode levar a deficiências de proteínas, cálcio, vitamina D e vitaminas do complexo B, sobretudo em fases como infância, gestação e envelhecimento. O leite e seus derivados representam fontes acessíveis e eficazes desses nutrientes.
O papel do leite na alimentação ao longo da vida
Com variedade crescente de versões disponíveis — integral, desnatado, sem lactose, tipo A2, entre outros —, o leite pode ser facilmente adaptado às necessidades de cada fase da vida. “O produto lácteo é um alimento versátil, acessível e altamente nutritivo. Seu consumo deve ser mantido sempre que não houver contraindicações. Ele cumpre papel essencial na alimentação infantil, adulta e da população idosa”, destaca a Dra. Aline.
Além disso, a especialista ressalta que o leite materno deve ser exclusivo até os seis meses de vida e complementar até os dois anos ou mais, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O leite segue como um dos pilares da segurança alimentar no Brasil, sendo importante reforçar seu papel na saúde pública com base em evidências científicas e orientação profissional. A divulgação de informações corretas, como as do consenso ABRAN/SBAN, é fundamental para combater mitos e garantir escolhas alimentares mais seguras e eficazes para a população.
O leite é essencial na dieta equilibrada e deve ser considerado em todas as fases da vida.