O preço pago ao produtor no mês de agosto apresentou recuo de 8 centavos/litro frente a julho, fechando a R$ 1,1555/litro

  O movimento de queda no preço do leite recebido por produtores, neste ano iniciado precocemente em junho, se intensificou em agosto. Segundo cálculos do Cepea-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, na “média Brasil” (inclui BA, GO, MG, SP, PR, SC, RS), o preço líquido (que não considera frete nem impostos) recuou 8 centavos/litro (ou 6,38%) frente a julho, fechando a R$ 1,1555/litro.

Este é o menor patamar, em termos reais, desde abril/16 (quando foi de R$ 1,1516/litro) – dados deflacionados pelo IPCA de julho/17. Se comparado com agosto/16, a baixa é de 23,34%, também em termos reais.

O recuo na cotação do leite no campo continua ocorrendo em razão da demanda enfraquecida por lácteos na ponta final da cadeia. Uma vez que o consumo de lácteos está diretamente relacionado ao aumento da renda, o menor poder de compra do consumidor brasileiro segue desaquecendo o mercado.

De acordo com pesquisas do Cepea que monitoram os preços dos lácteos negociados entre indústria e atacado no Brasil, promoções têm sido frequentes para tentar manter o fluxo de vendas e evitar formação de estoques. Dessa forma, os preços do leite UHT e da mussarela, os derivados mais consumidos no País, se desvalorizaram 5,46% e 3,20% de julho para agosto, respectivamente.

Além do baixo consumo, o aumento da oferta também contribuiu para a diminuição dos preços no campo. A captação de leite pelas indústrias se elevou em 4,42% de junho para julho, de acordo com o Índice de Captação de Leite (ICAP-L). Todos os estados, com exceção de Goiás, apresentaram alta, devido às condições climáticas não muito adversas e aos patamares atrativos dos preços da silagem, o que favorece a produção.

Para setembro, 74,8% dos agentes consultados pelo Cepea (que representaram 76,9% do volume amostrado) continuam apostando em queda nos preços. Por outro lado, a parcela de colaboradores do Cepea que esperam alta se elevou, chegando a 13,8% (ou 19,4% do volume amostrado). Os que acreditam em estabilidade responderam por 11,4% da amostra (ou 3,7% do volume).

Segundo pesquisadores do Cepea, os preços no campo nos próximos meses vão depender, principalmente, da demanda e das condições climáticas. O recuo da taxa de desemprego no trimestre terminado em junho, ainda que de apenas 0,2%, dá sinais de uma possível reação do consumo. De acordo com dados do IBGE, o mercado de trabalho vem se recuperando, ainda que apoiado na geração de empregos informais.

Já no que diz respeito às condições climáticas, o Inmet-Instituto Nacional de Meteorologia apontou águas mais frias no Oceano Pacífico e a possibilidade de o fenômeno La Niña atingir o Brasil nos próximos meses. A ocorrência do fenômeno dependerá das correntes de vento daqui para frente. De acordo com projeções, se houver La Niña, as chuvas devem retornar mais tarde neste ano, apenas no final de outubro, e com mais irregularidade.

Para o pecuarista, a estiagem diminuiria a qualidade das pastagens e afetaria a produção. Ao mesmo tempo, para o agricultor, o plantio do milho é prejudicado, o que pode, consequentemente, influenciar na precificação da ração do gado, também resultando em menor produção leiteira.

Tabela 1

 Preços pagos pelos laticínios (brutos) e recebidos pelos produtores (líquido) em AGOSTO/17 referentes ao leite entregue em JULHO/17

tabela1Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Queda confirmada nos valores do Sul – O valor de referência do leite projetado para o mês de agosto no Rio Grande do Sul foi de R$ 0,9006, por litro, redução de 4,22% em relação ao consolidado de julho, que fechou em R$ 0,9403. Segundo o Conseleite RS, nos últimos três meses o valor de referência do leite caiu 8,92% no Estado. Segundo o professor da UPF-Universidade de Passo Fundo, Eduardo Belisário Finamore, baixa de 3,63% também foi notada no leite UHT, uma queda que se acentuou devido à redução de 7,7% no valor de referência do leite em pó.

O presidente do Conseleite, Alexandre Guerra, alerta que a redução dos números do Conseleite reproduz um momento de mercado, com margens mínimas no setor industrial. “Batemos no fundo do poço. Agora é preciso dar início a uma retomada”, completou. Segundo ele, o Rio Grande do Sul vive seu pico de produção, mas está com estoques baixos tanto na indústria quanto no varejo. “As vendas estão condicionadas às ofertas das gôndolas em função do baixo poder aquisitivo do consumidor em tempos de crise”, disse.

“Precisamos continuar a produzir e sermos cada vez mais competitivos, já que a tendência é melhorar. Esse cenário irá se recuperar na sequência”, frisou, pontuando a importância de pleitear apoio ao governo para dar um freio às importações de cargas do Uruguai e de estímulo às compras governamentais. Guerra explica que é preciso que se tenha claro que os dados apresentados pelo colegiado retratam apenas uma referência. “No campo, o produtor recebe mais do que isso porque a produção é remunerada por bonificações de qualidade e quantidade”, salientou.

Em Santa Catarina, a direção do Conseleite do Estado também apontou queda nos preços praticados no mês de agosto. “O consumo não se expande e a importação não cessa. Essas são as principais causas do excesso de leite no mercado e a consequente queda no preço praticado pelos laticínios na aquisição dessa matéria-prima junto aos produtores rurais”, avaliou o presidente da instituição, Adelar Maximiliano Zimmer.

Os valores de referência ao produtor no mês passado registraram 2% de queda em relação ao mês anterior. São as seguintes projeções de valores: leite acima do padrão R$ 1,1966/litro; leite padrão  R$ 1,0405 e abaixo do padrão R$ 0,9459. Os valores se referem ao leite posto na propriedade com Funrural incluso. A redução do preço do leite em todas as fases da cadeia produtiva nesta época do ano é absolutamente atípica. “É a primeira vez em dez anos que isso ocorre”, destaca Zimmer.

Custos de produção subiram – O Índice Scot Consultoria de Custo de Produção da Pecuária Leiteira, que estava em queda desde fevereiro último, subiu em agosto. A foi de 0,1% na comparação com julho deste ano. “Além dos reajustes positivos nas cotações dos combustíveis e dos defensivos agrícolas, o cenário de preços mais firmes dos alimentos concentrados, principalmente o milho, colaborou para a alta do indicador”, informou Juliana Pila, analista de mercado da consultoria. Mesmo assim, observa que, apesar da alta, na comparação com agosto do ano passado, os custos de produção estão 15,6% menores este ano.

A Scot confirma também queda nos preços do leite no mercado spot e dos lácteos no atacado. No primeiro setor, ou seja, do leite comercializado entre as indústrias, o preço do leite teve nova queda na primeira quinzena de agosto. Segundo levantamento, em São Paulo, o litro ficou cotado, em média, em R$ 1,125, posto na plataforma. Houve queda de 6,9% na comparação com a quinzena anterior. Em Minas e Goiás, as quedas foram de 8,6% e 7,7%, respectivamente, indicando R$ 1,085/litro e R$ 1,078/litro, em média.

“A produção aumentando e a demanda fraca na ponta final da cadeia pressionam as cotações do leite no mercado spot e demais elos da cadeia”, explica Juliana. Já no atacado, segundo ela, os preços dos produtos lácteos estão em queda desde abril. O leite longa vida caiu 1,7% em agosto, na comparação mensal. O produto está custando 30,2% menos que no mesmo período do ano passado. Já o preço da mussarela caiu 18,3% frente a agosto de 2016 no mercado atacadista. “A expectativa em curto e médio prazos é de que pressão de baixa continue no mercado do leite”, completa.

Segundo o CILeite, boletim de análise econômica da Embrapa Gado de Leite, a queda no consumo de lácteos é a principal culpada pelo recuo de preços. O volume de vendas de produtos recuou cerca de 4,5% no primeiro semestre de 2017. “O setor lácteo nacional está vivenciando uma mudança de humor. O ambiente de motivação do segundo semestre de 2016 e primeiro semestre de 2017 cedeu lugar a um cenário mais negativo”, informa, observando que existem fatores positivos que precisam ser valorizados.

No âmbito internacional, a tonelada do leite em pó integral no Global Dairy Trade, leilão referência da Fonterra/Nova Zelândia, passou de US$ 2.479 em agosto de 2016 para US$ 3.149 em agosto deste ano, uma alta de 27%. Por outro lado, o preço real pago ao produtor no Brasil é praticamente o mesmo de um ano atrás, ficando mais alinhado a cotação internacional e reduzindo a competitividade das importações, o que é um bom sinal para um país que tem planos de se torna exportador de lácteos.

Analisando os dados de importação, percebe-se uma desaceleração do volume comprado. Entre janeiro e julho de 2016 entraram cerca de 1 bilhão de litros de leite via importação, recuando para 864 milhões de litros no mesmo período de 2017, uma queda de 14%. A importação elevada de 2016 foi consequência da falta de leite no mercado brasileiro e elevação dos preços do produto nacional em relação ao importado. Parte da importação do ano passado está sendo substituída por produção interna e, finalmente, milho e soja seguem com preços mais favoráveis aos produtores, o que tem proporcionado uma boa rentabilidade para o produtor de leite com custos mais reduzidos se comparados a anos anteriores.

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