Apesar de um segundo semestre complicado para os produtores de leite, as vendas de sêmen de raças leiteiras cresceram quase 10% no ano passado, em comparação com 2016

Por Romualdo Venâncio

O relatório anual da Associação Brasileira de Inseminação Artifi­cial, o Index Asbia, mostra evolu­ção nas vendas de sêmen bovino em 2017. A comercialização total passou de 12,1 milhões de doses, 3,5% a mais do que as 11,7 milhões de doses vendidas em 2016. Boa parte deste crescimento se deve à retomada no mer­cado de genética das raças leiteiras, que avançaram 9,8%. Foram mais de 4 milhões de doses comercializadas em 2017, contra as quase 3,7 milhões no ano anterior. As raças de corte, ainda que representem quase o dobro em volume, com vendas acima de 8 milhões de doses no ano passado, avançaram apenas 0,6% sobre 2016. A Asbia não divulga o volume de doses de sêmen vendidas por raça, mas as quatro principais que lideram o mercado continuam a ser Holandês e Jersey, entre as impor­tadas, e Girolando e Gir, no ranking das nacionais.

Para Sérgio Saud, pre­sidente da Asbia, o resul­tado foi bastante positivo, em especial, porque após um primeiro semestre mais aquecido, aconteceu uma reviravolta no segundo. “Houve aumento de preços do leite no primeiro quadri­mestre e, após a crise de 2015, muitos criadores já vinham utilizando o sêmen que ainda guardavam em seus botijões. Então ocorreu certa euforia para compra”, explica o dirigente. O problema é que no segundo semestre os valores pagos pelos laticínios aos produtores entraram em que­da, esfriando os ânimos. No caso das raças de corte, o setor ainda sofre os impactos da operação “Carne Fraca”, deflagrada pela Polícia Federal em março do ano passado.

As vendas de sêmen de raças leiteiras também foram favorecidas pela re­tomada das compras por parte das prefeituras que investem no melhoramen­to genético. “Como 2016 foi ano de eleições munici­pais, não houve licitações, mas no ano passado esse mercado voltou com força”, comenta Saud. Essa participação das administrações dos municípios é mais comum na Região Sul, seja pela importância do agronegócio em sua economia, seja por uma questão cultural. Nelson Ziehlsdor­ff, diretor presidente da Semex, entende que essa é uma for­ma de as prefeituras impulsionarem o de­senvolvimento socio­econômico como um todo. “Ao subsidiarem a compra do sêmen para os produtores, promovem a evolu­ção dos rebanhos e, consequentemente, da qualidade do leite, dando mais condi­ções de as indústrias crescerem”, explica. “Com isso há também maior arrecadação nessas cidades”, ele acrescenta.

Uma combinação de indicadores econômicos leva os representantes do setor de inseminação a apostarem na continuidade do crescimento. A divulgação do avanço de 1% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, após dois anos de retração, foi um primeiro passo. “Este anúncio con­firma o fim da reces­são, gerando uma sensação positiva que acaba se trans­formando em ação, ou seja, retomada de investimentos”, diz Saud, que con­tinua: “Também cria uma expectativa de que o PIB possa vir a crescer 3% este ano”. Outro item diz respeito à cesta bási­ca dos brasileiros. De acordo com pesqui­sa feita pela Kantar World Panel, empresa global especializa­da em comportamento dos consumidores, produtos que haviam sido excluídos do carrinho de compras começaram a retor­nar, entre eles, a manteiga e o requeijão, dois derivados de leite.

Ziehlsdorff comenta ter ouvido, em conversas com representantes das in­dústrias, a explicação de que o problema do preço ao produtor está diretamente relacionado à queda do consumo nas gôn­dolas e geladeiras do varejo. Diante dessa análise, acredita-se, então, que a situação melhore para os cria­dores. Ao menos para a Semex, tal cenário já estimula a projeção de novos avanços. A boa notícia do crescimento de 12% da empresa em vendas de sêmen de raças leiteiras em 2017 ficou ainda melhor após o balanço de janeiro deste ano. “Nosso fatu­ramento total aumentou 26% sobre janeiro do ano passado, e muito por causa do leite, pois o principal período das vendas de corte, a estação de monta, já passou”, avalia o presidente.

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Leia a íntegra desta matéria na edição Balde Branco 641, de abril 2018

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