“É importante lembrar que os preços do leite no campo são influenciados pelos mercados de spot e derivados, com atraso de um mês nesse repasse de tendência”
O preço do leite no campo recuou em novembro, interrompendo, portanto, o movimento de alta que vinha sendo verificado desde junho. De acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a “Média Brasil” líquida do leite captado em outubro e recebido por produtores em novembro caiu para R$ 2,0435/litro, baixa de 5,3% (ou de 11 centavos/litro) frente ao mês anterior.
É importante lembrar que os preços do leite no campo são influenciados pelos mercados de spot e derivados, com atraso de um mês nesse repasse de tendência. Assim, o preço do leite captado em outubro que é pago em novembro é influenciado pelo desempenho dos mercados de derivados e spot de outubro.
Por conta da sazonalidade da produção, é esperado que, a partir de outubro, ocorra a desvalorização do leite no campo, uma vez que as chuvas da primavera e do verão elevam a disponibilidade de pastagem. Porém, em 2020, a retomada da produção não tem ocorrido de forma intensa, já que as condições climáticas foram menos favoráveis. Além disso, a elevação dos custos de produção prejudica a atividade. Mesmo assim, nas primeira e segunda quinzenas de outubro, houve maior oferta de leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais, de modo que a média mensal caiu 16,8% frente à de setembro/20, indo para R$ 2,23/litro.
Nesse sentido, de acordo com agentes consultados pelo Cepea, a redução das cotações no campo esteve mais atrelada à pressão dos canais de distribuição sobre as negociações de lácteos com as indústrias em outubro. Isso porque o consumo esteve enfraquecido naquele mês, em função dos altos patamares de preços atingidos pelos derivados em meses anteriores. Como consequência, em outubro, houve a diminuição dos preços médios de derivados importantes para a formação do preço ao produtor, como leite longa vida (UHT), muçarela e leite em pó. É importante destacar que, mesmo com estoques enxutos de lácteos, a valorização intensa de vários gêneros alimentícios nos últimos meses tem pesado sobre a decisão de consumo do brasileiro, o que também resulta em maior competição entre redes varejistas para atrair clientes com preços baixos.
PERSPECTIVAS – A grande dificuldade para o setor neste final de ano está em equalizar a demanda, sensível aos elevados patamares de preços dos lácteos, com a oferta que deve seguir restrita, já que a ocorrência de La Niña deve impactar negativamente a atividade leiteira nos próximos meses. Além disso, as expressivas altas dos custos de produção (atreladas, sobretudo, à valorização dos grãos) impossibilitam investimentos na atividade, além de já comprometerem as margens dos produtores, visto que ocorrem em um momento muito sensível de redução da receita. Outro agravante para a situação é a valorização da arroba ao longo deste ano, que acaba estimulando o abate de fêmeas. Assim, a produção de leite pode não se recuperar no verão, como em outros anos, o que pode frear o movimento de queda no campo.
PREÇOS RECEBIDOS EM OUTUBRO PELO VOLUME CAPTADO EM SETEMBRO | |||||||||
Preços líquidos – não contém frete e impostos. Valores nominais. | |||||||||
BA | GO | MG | SP | PR | SC | RS | BRASIL | ||
set/20 | 1,9924 | 2,2541 | 2,1540 | 2,0172 | 2,0682 | 2,0635 | 1,9996 | 2,1319 | |
out/20 | 2,1201 | 2,2571 | 2,1561 | 2,1071 | 2,1482 | 2,1274 | 2,0808 | 2,1586 | |
nov/20 | 2,1445 | 2,1478 | 2,0272 | 2,0157 | 2,0171 | 2,0309 | 1,9947 | 2,0434 | |
variação mensal | 1,15% | -4,84% | -5,98% | -4,34% | -6,11% | -4,54% | -4,14% | -5,34% |
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