O Movimento Construindo Leite Brasil, coordenado pelo produtor Rafael Hermann, divulgou, no dia 25 de maio, manifesto no qual pede apoio dos governos federal, estaduais e municipais para enfrentar a crise vivida pelo setor, agravada por problemas climáticos e pela pandemia do novo coronavírus.
Os pecuaristas leiteiros dizem que estão sendo sufocados financeiramente pela alta carga tributária, custos de produção elevados, falta de uma política de formação de preços, pelo endividamento rural, pelas legislações trabalhistas, tributária e ambiental e pelas importações de leite de outros mercados. Esta situação, ressaltam, têm levado muitos produtores a abandonar a atividade.
Leia, abaixo, a íntegra do manifesto:
Manifesto à nação dos produtores do Movimento Construindo Leite Brasil
O Movimento Construindo Leite Brasil vem a público manifestar a indignação com que nós, produtores brasileiros de leite, temos sido tratados pelos governos federal, estaduais, municipais e pelo Poder Legislativo de municípios, estados e federal. Apesar de vivermos uma crise sem precedentes, não vemos qualquer ação mais efetiva por parte de nossas autoridades que possa nos ajudar a superar tal situação.
Nos últimos seis anos, enfrentamos uma série de dificuldades que são resultado da falta de políticas públicas para o setor. Tal situação se agravou ainda mais a partir de 2018 em decorrência de problemas climáticos – como a seca no Sul do país – e agora da pandemia do novo coronavírus.
Somos uma cadeia produtiva formada por cerca de 1,2 milhão de micro, pequenos, médios e grandes produtores espalhados por quase todos os municípios do país. Produzimos um dos alimentos mais saudáveis e essenciais à dieta das famílias brasileiras: o leite, que ainda serve de matéria-prima para derivados como queijos e iogurtes.
Dentro de nossas limitações, cada um dos nós dá uma parcela de contribuição para o desenvolvimento do país, gerando emprego e renda no campo e recolhendo impostos municipais, estaduais e federais. Trabalhamos de domingo a domingo, do amanhecer ao anoitecer, fornecendo um produto que gera ainda mais riquezas e empregos ao ser entregue aos laticínios e destes para o comércio varejista.
Somos, portanto, uma das cadeias produtivas de maior relevância socioeconômica do Brasil. Contudo, tal importância só é reconhecida na hora dos discursos empolgados e sem consequências práticas e quando querem o voto do pecuarista leiteiro e de suas famílias para chegar ao poder. Depois disso, somos abandonados à própria sorte, ao infortúnio.
Ao longo destes dois últimos anos, temos relatado às autoridades, seja por meio de vídeos em redes sociais, de mensagens eletrônicas ou de cartas, a situação de dificuldades e apontado quais os problemas os principais problemas que enfrentamos e que exigem uma ação para que possamos enfrentar a crise.
Por mais incrível que possa parecer, nossas aflições começam da porteira para fora, o que mostra que somos competitivos dentro das propriedades rurais. Mas não conseguimos resolver os problemas que aparecem daí em diante. Problemas conhecidos plenamente por nossos governantes, legisladores e até por aqueles que dirigem nossas representações de classe.
Somos um setor sufocado pela alta carga tributária, pelos elevados custos de produção, pela falta de uma política de formação de preços, pelo endividamento rural, pelas legislações trabalhistas, tributária e ambiental e pelas importações de leite de outros mercados. Tudo isso vem sufocando, asfixiando e escravizando os produtores brasileiros de leite.
Diante disso, temos buscado o diálogo com os governantes e legisladores para resolver tais questões, mas as respostas nunca chegam.
A bem da verdade, a contrapartida do Estado brasileiro é praticamente nenhum, embora nossas autoridades venham sendo informadas sobre a gravidade da crise do setor, que pode levar mais de 200 mil famílias a abandonar a atividades nos próximos cinco anos e agravar o problema do êxodo rural.
Também não temos tido êxito no nosso diálogo com os laticínios, o outro importante elo da cadeia. Eles impõem não só os preços como também a forma de pagamento. Jamais sabemos o preço que receberemos no dia que entregamos o produto. Além disso, o pagamento é feito um mês depois, quando não passa de 30 dias.
Não bastasse tudo isso, no mês de abril, quando as projeções indicavam alta no preço do leite ao produtor a ser pago em maio, a maioria dos laticínios simplesmente decidiu não repassar o reajuste aos pecuaristas leiteiros e ficou tudo por isso mesmo. Nenhuma manifestação de governante algum. Nenhuma medida mais forte que pudesse levar à indústria a rever sua posição.
Enfim, estamos cansados de ouvir promessas jamais cumpridas. Estamos revoltados por ver quase que semanalmente nossos colegas produtores dizer que vão abandonar a atividade ou que vão vender parte dos seus rebanhos para poder pagar dívidas com juros altíssimos e insuportáveis. Estamos descrentes das nossas autoridades e até das representações de nossa classe de produtores rurais.
Ainda assim, esperamos que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e os governos estaduais e municipais tomem alguma providência, enquanto é tempo, para que possamos seguir produzindo leite para alimentar as famílias brasileiras e gerar emprego e renda no campo.
Fonte: Agro em Dia
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