Percebe-se claramente que o custo total da dieta (linha vermelha) aumenta à medida que as vacas produzem mais leite, o que é óbvio, mas é importante notar como a RMCA (linha azul) aumenta proporcionalmente mais do que o custo. Outro ponto importante é que a Eficiência Alimentar (EA – litros de leite produzidos por kg de matéria seca de alimento ingerida) também aumenta à medida que aumenta a produção da vaca. Ou seja, quanto maior o volume de leite produzido, mais eficientes são as vacas e maior a RMCA, mesmo com o aumento no custo de alimentação.
Como o dinheiro gasto na compra de alimentos sempre é significativo, é natural que se pense em reduzir esse desembolso mensal. A análise proposta neste artigo, demonstra que o produtor deve pensar muito antes de cortar o gasto com a comida das vacas, pois se isso levar a uma redução na produção de leite, o resultado financeiro pode ser desastroso.
É preciso lembrar que nem todas as vacas em lactação estão no mesmo “momento”. Em todo rebanho há vacas no início, meio e final de lactação. As que se encontram no terço inicial da curva produtiva são as mais eficientes, pois comem menos e produzem mais do que as do final da curva. Além da questão produtiva é preciso lembrar que as vaca no início do ciclo estão em período reprodutivo, ou seja, precisam estar muito bem nutridas para que possam emprenhar novamente, o mais rápido possível. Atrasar o estabelecimento de nova prenhez significa gastar mais dinheiro com a vaca e reduzir a sua eficiência produtiva. Dessa forma, pensar em reduzir a produção dessas vacas, diminuindo a oferta de comida ou piorando a qualidade da sua dieta trará impactos negativos duradouros na rentabilidade de propriedade, pondo em risco o futuro da atividade.
Para as vacas já no terço final da lactação de fato cabe uma reflexão: vale a pena mantê-las produzindo, se a margem de lucro está muito apertada? É preciso avaliar qual o ponto de equilíbrio da produção, ou seja, qual o volume mínimo de leite produzido por dia que justifique manter a vaca em lactação. Qual o mínimo que ela deve produzir para, pelo menos, pagar os custos? Essa análise deve ser feita individualmente por cada produtor considerando a situação particular de cada fazenda, analisando os seus custos e RMCA que consegue apurar. Na tabela 1 acima fica claro que quanto menos a vaca produz, maior a chance de que ela não se pague, pois se a RMCA for muito pequena pode não sobrar receita suficiente para pagar os demais custos.
Caso em sua análise seja constatado que algumas não estejam sendo lucrativas, talvez seja o caso de se considerar a secagem das que estiverem no terço final da lactação.
Inegavelmente isso pode ajudar a reduzir os custos e pode fazer sentido se essas vacas não estão apresentando RMCA positivo, mas outro item a ser avaliado é o aumento do risco de desenvolverem mastite em um período seco muito prolongado, então é preciso calcular o custo-benefício dessa prática, pois os prejuízos podem ser ainda maiores se a vaca necessitar de tratamento e, certamente, vai impactar negativamente o seu desempenho no início da lactação seguinte.
Pelo que foi abordado até aqui conclui-se que o melhor caminho para manter a lucratividade na fazenda leiteira é buscar a máxima eficiência das unidades de produção, no caso, as vacas. O grande “combustível” para a produção é a comida, e por isso é fundamental avaliar a RMCA permanentemente. Mas outros aspectos também contribuem decisivamente com a eficiência. Os pontos destacados abaixo devem ser igualmente monitorados e avaliados para que se consiga trabalhar com alta eficiência:
• Garanta conforto para os animais: falta de conforto impacta de forma brutal a produção de leite e o desempenho reprodutivo. Quanto mais tempo as vacas passam descansando, maior sua eficiência alimentar e RMCA. Para vacas em início de lactação mais conforto significa maior pico de produção e retorno mais rápido à atividade estral, o que significa melhores índices reprodutivos.
• Avalie o número de animais em recria: muitas fazendas trabalham com recrias “inchadas”, mantendo um número de novilhas maior do que sua necessidade de reposição. Mesmo podendo ser uma fonte extra de receita, a criação de um número de novilhas além do necessário representa um custo adicional significativo para a fazenda. Em momentos de ajustes de custos, a venda das novilhas excedentes é indicada.
• Cuide com rigor da sanidade do rebanho: qualquer doença ou enfermidade, mesmo que seja subclínica, reduz a eficiência produtiva dos animais. No caso das vacas em lactação, a mastite e os problemas de casco são as ocorrências mais comuns e mais fáceis de serem identificadas e representam perda muito significativa de eficiência. Em cenários desafiadores é preciso redobrar a atenção e cuidados para evitar esses problemas e até aproveitar o momento para descartar animais com problemas graves ou crônicos.
Considerando todos os aspectos discutidos aqui podemos dizer que o cenário atual está impondo um desafio grande aos produtores de leite, mas que a atividade pode sim ser lucrativa, desde que o foco seja pela busca da eficiência de produção. É fundamental entender que, como em qualquer negócio, é importantíssimo controlar os custos. O que se deve ter em mente é que, em momentos difíceis, os primeiros custos a serem cortados deveriam ser os que não trazem receita para o negócio.
Já os custos relacionados à geração de receita, como os custos de alimentação das vacas em lactação, devem ser revisados com muito cuidado e com a ajuda de profissionais especializados, para evitar ou minimizar impactos sobre a produção do leite. Deve-se ter sempre em mente que, como mostram claramente os dados do SEBRAE, o volume de leite produzido é o fator de maior impacto sobre a rentabilidade.