Por: Vitor Marcassa de Godoy
Zootecnista e coordenador comercial da Nutricorp
A pecuária leiteira nacional vem sofrendo diversas flutuações nas margens deixadas ao produtor, refletidas pelo aumento do custo dos principais ingredientes das dietas, como milho e farelo de soja. Segundo dados da Radar-Agro (Itaú-BBA), o produtor de leite do estado de São Paulo precisou de 34 L de leite para comprar uma saca de milho (60 kg), estando 44% acima do mesmo período do ano passado (24 L). Já em relação ao farelo de soja, a alteração foi de 32%, demandando 1.080 L de leite/ton de farelo de soja. Sendo assim, manejos que visem um aumento da produção leiteira e qualidade do produto final devem ser adotados, uma vez que os laticínios remuneram o produtor com base em quantidade e qualidade, levando em conta a produção total de leite e o teor de sólidos do mesmo.
Dentre as diversas tecnologias que podem ser tomadas para a maximização da eficiência produtiva e qualitativa do rebanho, destaca-se o uso daquelas relacionadas à nutrição. Mais especificamente, o fornecimento de sais cálcicos de ácidos graxos (SCAG) de óleo de palma (PLM), basicamente compostos por ácidos palmítico (C16:0; 45%) e oleico (C18:1 cis-9; 35%), misturados na dieta de animais pós-parto. A inclusão dos SCAG tem por finalidade aumentar a densidade energética do suplemento/dieta, assim como a substituição parcial dos grãos cereais, reduzindo assim o risco de distúrbios ruminais, tais como acidose.
Estudos recentes feitos por Neto (2020) demonstraram que a suplementação com SCAG de PLM aumentou a produção de leite em 1,53 kg/d, com um aumento de 0,42 kg/d para cada % de aumento de SCAG de PLM na matéria seca (MS) da dieta. Esses valores estão próximos aos valores de 1,55 e 1,29 kg/d reportados por Rabiee et al. (2012) e Onetti & Grummer (2004), respectivamente. Alguns dos mecanismos para explicar essas respostas incluem: (i) aumento da eficiência energética de vacas lactantes pela maior geração de ATP vs. carboidratos e proteína, (ii) partição de nutrientes em direção à produção de leite, (iii) poupança de energia pela diminuição da síntese de novo de AG no leite e (iv) redução do incremento calórico ruminas.
Seguindo essas premissas, de Souza (2017) avaliaram o efeito da inclusão de SCAG de PLM nos parâmetros produtivos de bovinos leiteiros a pasto, onde os tratamentos foram oferecidos entre as semanas 3 e 16 pós-parto, enquanto que o efeito residual após o término da suplementação foi avaliado pelo resto da lactação. Esses autores demonstraram que a suplementação com SCAG de PLM resultou em um aumento na produção de leite (kg/dia) de 15% durante a suplementação lipídica, aumento na produção (kg/dia) de proteína, gordura e lactose (Tabela 1).
Além disso, a suplementação com SCAG de PLM entre a 3ª e 16ª semana pós-parto foi efetiva em aumentar a produção de leite mesmo após o período suplementar ter finalizado. Esse potencial efeito pós-suplementação (carryover effect), pode ser importante para determinar o impacto econômico de suplementações estratégicas, pelo fato de que a suplementação lipídica é geralmente mais onerosa financeiramente quando comparado aos outros ingredientes do suplemento e/ou dieta total (de Souza, 2017). De maneira simplista, cada kg extra de leite secretado no pico de produção resulta em aproximadamente 200 kg de leite durante a lactação (Roche, 2013), sugerindo que estratégias de suplementação durante o início da lactação que aumentem a produção de leite no pico da lactação é efetiva em impactar a produção leiteira, mesmo após o término da suplementação.
Tabela 1. Efeito da suplementação entre a 3ª e 16ª semana pós-parto com SCAG de PLM na produção, composição do leite e eficiência de produção de vacas leiteiras durante toda a lactação (Adaptado de Souza et al., 2017).
Item | Tratamentos | EPM | Valor de P | ||
CON | PLM | ||||
Semana 3 a 16 pós-parto | |||||
Produção, kg/d | |||||
Leite | 24,2 | 29,0 | 0,52 | < 0.01 | |
Gordura | 0,86 | 0,95 | 0,02 | < 0.01 | |
Proteína | 0,80 | 0,89 | 0,02 | < 0.01 | |
Lactose | 1,15 | 1,36 | 0,02 | < 0.01 | |
Leite corrigido para 3.5% de gordura | 24,1 | 27,9 | 0,49 | < 0.01 | |
Leite corrigido para energia | 24,8 | 28,2 | 0,54 | < 0.01 | |
Produção acumulada, kg | 2.160 | 2.565 | 44,2 | < 0.01 | |
Eficiência de produção | 1,39 | 1,57 | 0,03 | < 0.01 | |
Semana 17 a 42 pós-parto | |||||
Produção, kg/d | |||||
Leite | 18,4 | 21,0 | 0,44 | < 0.01 | |
Gordura | 0,77 | 0,95 | 0,03 | < 0.01 | |
Proteína | 0,68 | 0,75 | 0,03 | < 0.01 | |
Lactose | 0,81 | 0,92 | 0,04 | < 0.01 | |
Leite corrigido para 3.5% de gordura | 20,5 | 23,4 | 0,48 | < 0.01 | |
Leite corrigido para energia | 20,9 | 23,7 | 0,47 | < 0.01 | |
Produção acumulada, kg | 3.349 | 3.822 | 55,7 | < 0.01 |
Em um estudo subsequente, Batistel (2017) avaliaram uma possível interação entre a suplementação com SCAG de PLM e processamento do milho (moído fino [FIN] ou floculado [FLC]) obtido e cultivado no Brasil. De maneira geral, a suplementação com SCAG de PLM, independentemente do processamento do milho, resultou em aumentos na produção de leite (+ 3,3 kg/dia), gordura (+ 0,11 kg/dia), proteína (+ 0,09 kg/dia), leite corrigido para gordura (+ 3,2 kg/dia), produção acumulada (+ 264 kg) e a eficiência de produção (+ 0,13 kg). Além disso, animais recebendo SCAG de PLM e milho FIN apresentaram maiores resultados produtivos, demonstrando que a magnitude dos benefícios nos parâmetros produtivos é maior em matrizes energéticas menos processadas.
Dessa forma concluímos que a utilização de SCAG de PLM para vacas lactantes consiste em uma melhoria produtiva e qualitativa do produto final, reduzindo custos e afetando positivamente as margens deixadas ao produtor, interagindo positivamente com ingredientes já comumente utilizados nas dietas sendo elas a pasto ou dietas completas.
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