Duas portarias do Governo de Minas Gerais, editadas no mês passado, reconheceram dez municípios localizados na Serra da Mantiqueira como regiões produtoras de queijo artesanal. As portarias atendem aos produtores da cidade de Alagoa, cujo queijo tem seu nome como marca (“Queijo Artesanal de Alagoa”) e das cidades de Aiuruoca, Baependi, Bocaina de Minas, Carvalhos, Itamonte, Itanhandu, Liberdade, Passa Quatro e Pouso Alto, cujos queijos são comercializados com a marca “Queijo Artesanal Mantiqueira de Minas”.
“Segundo o técnico da Emater-MG, Júlio César Seabra, a publicação das portarias é o penúltimo passo de uma longa caminhada para que o queijo artesanal produzido na Mantiqueira saia da informalidade.” O passo final será publicação do Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Queijo. A expectativa dos produtores é que ele seja aprovado em agosto. Com o Regulamento, os queijeiros que cumprirem todas as normas poderão obter o SISBI (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal) ou o Selo ARTE. Ambos permitem a venda do produto em todo o território nacional.
Pesquisa – O périplo dos produtores da Mantiqueira, cujo queijo já era famoso nos mercados das grandes cidades de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, começou há cerca de dez anos, com a parceria entre os queijeiros da região, a Emater-MG, a Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) e a Embrapa Gado de Leite. As instituições estruturaram um projeto de pesquisa para levantar dados que fundamentassem a regulamentação, primeiramente do queijo de Alagoa; em seguida, dos outros nove municípios mineiros da Serra da Mantiqueira.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Maria de Fátima Ávila Pires, coordenadora do projeto que envolveu 25 profissionais, o primeiro passo foi caracterizar o sistema de produção. Foram selecionados 50 produtores, identificados do ponto de vista econômico e social. “Traçamos o perfil do produtor da região e resgatamos os aspectos históricos e culturais da produção do queijo nos municípios”, conta Maria de Fátima.
Entre as contribuições do trabalho estava a de estabelecer um protocolo de maturação para o queijo, que ainda não contava com um prazo definido para essa etapa de produção. Os pesquisadores também fizeram diversos estudos que envolveram o solo e a água (aspectos físicos, químicos e microbiológicos), a alimentação das vacas e as análises do leite e do queijo.
Os estudos incluíram o levantamento de informações sobre o processo de produção do leite e da fabricação do queijo, caracterizando o “saber fazer” das comunidades, ou seja, como os produtores construíram as tradições que resultaram no modo próprio de fazer seu queijo artesanal. Agora, toda a pesquisa, reunida em um documento, será essencial para definição do Regulamento Técnico de Identidade.
Bom momento – Apesar do Covid-19, a publicação da portaria e a expectativa da aprovação do Regulamento Técnico de Identidade, chegam em um bom momento para os queijeiros da Serra da Mantiqueira. “Nas primeiras semanas após anunciada a pandemia, as vendas de queijo caíram a quase zero”, lembra Seabra. Os produtores se mobilizaram e adotaram os conceitos de marketplace na internet, utilizando plataformas de venda e redes sociais para comercializar o queijo. “Hoje, está difícil comprar queijos produzidos em Alagoa”, comemora Seabra.
O Brasil produz um milhão de toneladas de queijo por ano, e um quinto desse total é feito artesanalmente, com leite cru – que não passou pelo processo de pasteurização. A pesquisa sobre o leite da Mantiqueira reuniu 30 queijeiros de Alagoa e outros 20 queijeiros nas demais cidades. Os produtores são de base familiar, com a produção variando de cinco a mais de 50 quilos de queijo por dia. As fazendas são pequenas (cerca de 18 hectares) e o relevo acidentado da Serra da Mantiqueira limita o uso da pastagem. Capim verde picado, cana-de-açúcar, silagem de milho e concentrado representam boa parte da alimentação das vacas. O rebanho é predominantemente mestiço (Holandês/Gir Leiteiro).
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