Solos do Rio de Janeiro armazenam mais de 300 milhões de toneladas de carbono

Pesquisa mostra que os solos do Rio de Janeiro estocam cerca de 189 milhões de toneladas de carbono na camada de 0-20 cm, e aproximadamente 119 milhões de toneladas entre 30-50 cm de profundidade. Resultados são fruto de uma cooperação técnica entre Embrapa Solos e Secretaria Estadual de Ambiente e Sustentabilidade do RJ

Por Fernando Gregio – Embrapa Solos

Estudo inédito liderado pela Embrapa gerou mapas de estoque de carbono orgânico do solo englobando todo o estado do Rio de Janeiro. O mapeamento foi feito em duas profundidades, 0-20 e 30-50 centímetros, na resolução espacial de 30 metros, o que equivale a aproximadamente uma escala de 1:100.000. Na primeira profundidade (0-20 cm), foram quantificadas cerca de 189 milhões de toneladas de carbono e, na segunda (30-50 cm), aproximadamente 119 milhões de toneladas. Esses dados podem subsidiar políticas públicas e inventários em larga escala, além de fomentar o mercado de créditos de carbono no estado.

Os valores de entrada do estoque de carbono do solo foram obtidos do Inventário Florestal Nacional no Estado do Rio de Janeiro (IFN), desenvolvido pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) entre 2013 e 2016, a partir da análise de cerca de 200 pontos de amostragem de solos distribuídas por todo o estado, totalizando quase 400 amostras.

Os mapas de estoque de carbono no solo são fruto de um acordo de cooperação técnica entre a Embrapa Solos (RJ) e a Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro (SEAS-RJ) e estão disponíveis para a sociedade na plataforma da Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa (Geoinfo) – veja links em quadro nesta matéria.

A parceria também irá gerar uma publicação com um conjunto de cenários que favorecem o sequestro de carbono pelo solo no Rio de Janeiro, com recomendações de práticas sustentáveis de manejo do solo, além de uma biblioteca espectral de solos e uma estratégia de modelo de negócio para o mercado de carbono no estado.  

Lançamento oficial

Os mapas de estoque de carbono no solo do Rio de Janeiro serão lançados na solenidade de 50 anos da Embrapa Solos, nesta quarta-feira (28/05), a partir das 9h30, no Teatro Ecovilla Ri Happy – Sala Tom Jobim, na Rua Jardim Botânico, 1008, Rio de Janeiro (RJ).

 

“Para gerar um mapeamento que cobre todo o estado, utilizamos dados de quase 400 amostras de solo coletadas no estado para treinar modelos de predição do estoque de carbono do solo. Usando geoprocessamento e sensoriamento remoto, conseguimos informações de satélites e de mapas já publicados. Depois fizemos uma superposição desses pontos amostrais com diferentes camadas de informação, como altitude, declividade e concavidade do terreno, temperatura média anual, precipitação anual, uso e cobertura da terra, geologia e tipos de solo. Usamos, então, um modelo de estatística multivariada para, a partir da correlação entre essas covariáveis com o estoque de carbono do solo medido no campo, gerar o mapa no estado todo”, explica o pesquisador Gustavo Vasques, da Embrapa Solos.

Locais mais favoráveis para acúmulo ou perda de carbono no solo

Os mapas mostram quais ambientes são mais favoráveis para acumular ou perder carbono no estado. De acordo com Vasques, as serras possuem historicamente carbono acumulado no solo, devido ao clima frio, que desfavorece a decomposição da matéria orgânica, e à alta produtividade, porque elas normalmente são preservadas em florestas. “No Rio de Janeiro são, principalmente, a Serra do Mar, onde ficam a Serra dos Órgãos e a Costa Verde, e a Serra da Mantiqueira, onde fica o Parque de Itatiaia”, explica.

O pesquisador também aponta áreas encharcadas como outro local que acumula bastante carbono no estado, especialmente nos manguezais próximos à costa, no delta do Rio Paraíba do Sul, na região Norte Fluminense. Isso acontece porque o solo saturado com água não tem o oxigênio que muitos microrganismos precisam para decompor a matéria orgânica. “Esse cenário é típico de turfeira, solo lamoso, rico em matéria orgânica. São locais que já sabemos que devem ser preservados para não perder carbono. Drenar uma área de turfeira e transformar em uma área produtiva fará com que o carbono acumulado seja liberado na forma de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera após a entrada do oxigênio no ambiente, degradando a paisagem”, detalha.

Na outra perspectiva, baixos estoques de carbono foram observados no Norte-Noroeste do estado, que possui muitas pastagens em estágio moderado a severo de degradação pela ausência de um bom manejo e de adubação, o que ocasiona a queda de carbono e diminuição da saúde do solo. “São áreas onde há um carbono relativamente baixo. Medidas de manejo, conservação, correção e adubação do solo apropriadas podem incrementar o sequestro de carbono pelo solo. Quando o carbono aumenta, significa que todo o sistema produtivo e ambiental melhora a sua qualidade, com mais biodiversidade, maior sustentação de plantas, animais, microrganismos. Isso acaba ajudando todo o ambiente”, analisa Vasques. 

Importância de conhecer o carbono estocado nos solos

De acordo com o pesquisador, entender a quantidade de carbono no solo é importante, pois atualmente trata-se de uma commodity comercializada em mercado global. Isso porque uma das estratégias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas é promover o sequestro de carbono no solo e manter o seu armazenamento a longo prazo, o que pode ser alcançado por meio da melhoria da matéria orgânica do solo a partir da adoção de boas práticas de manejo, restauração de solos e paisagens degradadas ou intensificação de sistemas agrícolas com o plantio de árvores, por exemplo. “Essa estratégia pode ser combinada com programas e acordos de compensação para monetizar o carbono sequestrado do solo por meio da venda de créditos de carbono. E para que os programas de compensação funcionem, é preciso ter um valor inicial do estoque de carbono do solo como base para calcular a quantidade sequestrada após um período de avaliação”, pontua Vasques.

Outro ponto a ser destacado é que a medição do carbono pode ser mais cara do que o próprio valor negociado desse mesmo carbono estocado no solo. Portanto, nesse cenário, é relevante estabelecer funções preditivas para medição do carbono em todo o território a partir de amostras de solos já existentes, como foi feito para a geração dos mapas do Rio de Janeiro. Isso reduz o custo da medição e amplia a informação disponível sobre o carbono no solo.

Além da importância para o mercado de créditos, os pesquisadores ressaltam que a informação do estoque de carbono também é um indicativo da saúde do solo. Dessa maneira, a longo prazo, os mapas poderão contribuir para entender se os estoques de carbono nos solos no Rio de Janeiro têm aumentado ou diminuído, indicando se a sua saúde tem melhorado ou piorado com o passar dos anos.

 

A meta agora é gerar mapas e novas informações sobre os solos de toda a Mata Atlântica

O pesquisador da Embrapa Solos Fabiano Balieiro revela que a equipe está planejando ampliar os estudos sobre os solos de todo o bioma Mata Atlântica, que ocupa 1,1 milhão de km² em 17 estados, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019).

O objetivo é utilizar cerca de 9 mil amostras de solos da Mata Atlântica doadas pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) à Embrapa Solos em 2022, após serem utilizadas para análises pelo laboratório da Fundação Norte Fluminense de Desenvolvimento Regional (Fundenor), de Campos de Goytacazes (RJ), durante o primeiro ciclo do Inventário Florestal Nacional. Parte dessas amostras já foram utilizadas no trabalho de mapeamento do estoque de carbono nos solos do Rio de Janeiro, após validação dos dados de carbono em laboratório da Embrapa Solos.     

“Neste momento, o Serviço Florestal Brasileiro está iniciando o segundo ciclo do inventário, para finalizar o inventário florestal de alguns biomas. Com o intuito de também acessar as amostras desse segundo ciclo, estamos articulando um acordo de cooperação técnica com o SFB que visa, além de salvaguardar tais amostras para estudos futuros, continuar gerando informações e mapas de estoques de carbono e de outros atributos do solo para todo o bioma Mata Atlântica”, conclui Balieiro.   

 

Acesse os mapas no GeoInfo

 

Ciência integrada a políticas públicas

Segundo Telmo Borges, superintendente de Mudanças do Clima da SEAS-RJ, a parceria com a Embrapa Solos foi viabilizada graças a um edital do Future Fund, do Climate Group, coalizão internacional pelo clima da qual o governo do estado do Rio de Janeiro faz parte. Ele afirma que a definição do panorama do estoque de carbono do solo no estado está alinhada a outras estratégias em curso, como a construção conjunta de políticas públicas de mitigação das emissões de gases de efeito estufa, por meio do incremento do carbono no solo, o fomento de uma transição agroecológica para sistemas agroflorestais e a promoção da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) para o desenvolvimento do interior do estado.

O gestor cita, ainda, o programa Florestas do Amanhã, parceria do governo estadual com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que tem a meta de ampliar em 10% a cobertura florestal no estado até 2050, o equivalente a 440 mil hectares, e o projeto desenvolvido pela The Nature Conservancy (TNC) Brasil na Serra da Mantiqueira para desenvolvimento de um modelo de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) de carbono, com foco em restauração e condução de regeneração.

“A nossa estratégia com a Embrapa dialoga e colabora com políticas da Secretaria de Agricultura, com o Plano Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social e com o Plano Estadual sobre Mudança Climática, que busca ações concretas de mitigação, com a possibilidade de um plano de negócios do carbono vinculada à lei federal e a outras iniciativas voluntárias de carbono incremental da biomassa florestal e de carbono no solo. Essa parceria possibilitou a integração entre ciência e desenvolvimento de políticas públicas, com critério técnico-científico e robustez de dados, para consolidação de ações que alinham conservação da biodiversidade com políticas agrícolas, de mudanças climáticas e de restauração florestal, tudo atrelado à capacidade dos solos”, destaca Borges.

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