Assim como já esperado por colaboradores do Cepea-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada-Esalq/USP, os preços do leite recebido por produtores em janeiro seguiram estáveis (ligeiro recuo de 0,15%) frente aos de dezembro, fechando a R$ 1,1885/litro na “média Brasil” (MG, RS, SP, PR, GO, BA e SC).

Segundo os entrevistados, o excesso de chuva na região Sul do Brasil e o baixo volume de precipitação em Goiás e em Minas Gerais limitaram o ritmo de crescimento na oferta nas principais bacias produtoras.

Para os próximos meses, parte dos agentes consultados acredita em recuperação nos preços do leite ao produtor, fundamentada no possível aquecimento da demanda por conta do retorno das aulas e na recuperação da economia nacional.

Para este mês de fevereiro, especificamente, a maioria dos produtores entrevistados, que representam 42,1% do leite amostrado, ainda espera estabilidade nos preços. Porém’, os outros 38,8%, que representam 54,7% do volume amostrado de leite, acreditam em alta. Apenas 7,5%, que representam 3,1% do volume da amostra, esperam queda nos valores.

Quanto à produção no campo, o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L/Cepea) sinalizou pequena queda de 0,1% no volume de novembro para dezembro. Dos sete estados incluídos no ICAP-L/Cepea, destacaram-se Bahia, com aumento de 4,51% na captação, e Rio Grande do Sul, com queda de 0,80%. No acumulado do ano anterior, o ICAP-L registrou queda de 2,96%.

Completando, o Cepea destaca ainda que o preço do leite UHT continua em alta, sustentado pela leve melhora na demanda pelo derivado em janeiro. Já o queijo mussarela segue em queda pelo sexto mês consecutivo, mas com indicativos de inversão de tendência para o próximo mês. As médias de janeiro (até dia 30) do leite UHT e do queijo mussarela negociados no atacado do estado de São Paulo são de R$ 2,3668/litro e de R$ 14,64/kg, respectivamente, altas de 4,79% e baixa de 1,01%, respectivamente.

2016: média é a maior da série
Considerando-se os preços reais (valores deflacionados pelo IPCA de dez/16) no ano passado, a média líquida anual foi de R$ 1,253/litro, 21,8% superior à de 2015 e a maior de toda a série anual do Cepea, iniciada em 2004. No correr de 2016, o clima impactou fortemente na produção de leite nas principais bacias, reduzindo a oferta de matéria-prima em boa parte do ano.

No início de 2016, o aumento significativo no volume de chuvas atrapalhou a qualidade das pastagens e a logística para coleta do leite nas propriedades. Com a produção no campo abaixo do esperado e com o avanço da entressafra, os estoques das indústrias reduziram, impulsionado os valores ao produtor a patamares recordes. Porém, diferente dos anos anteriores, o início sazonal da safra coincidiu com a chegada das chuvas, resultando em forte recuperação dos estoques e queda nos preços ao produtor a partir de agosto.

Do lado da demanda, as crises econômica e política continuaram impactando no mercado lácteo. Mesmo com a ligeira melhora no consumo de alguns derivados quando comparados a 2015, grande parte desses produtos ainda é classificada como bem superiores de consumo, e, com o poder de compra do consumidor ainda em recuperação, a demanda é considerada baixa pela indústria.

Já os custos de produção das propriedades leiteiras seguiram em alta em 2016. O Custo Operacional Efetivo (COE) acumulou aumento de 5,26%, abaixo do IPCA, que subiu 6,29% no ano passado. O item que mais se valorizou em 2016 foi o concentrado (11,6%), que tem a maior ponderação na distribuição dos custos, de 45,5% do COE. Já o item que registrou a maior queda foi o das forrageiras anuais, com 11,5%, principalmente por conta dos fertilizantes e defensivos.

Conseleites confirmam estabilidade
Confirmando a tendência apontada pelo Cepea, o Conseleite RS indica o preço de referência para o litro de leite em janeiro/2017 de R$ 0,9367, menos de 1% abaixo do consolidado em dezembro de 2016 (R$ 0,9453), o que revela um quadro de estabilidade. O secretário-executivo do Sindilat-Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul, Darlan Palharini, informou que os atuais números mostram recuperação em outros itens importantes no mix de produtos do setor lácteo, a exemplo do UHT, que teve elevação de 5,68%.

Ao se referir aos números tabulados pela Universidade Federal de Passo Fundo, ele disse que a maioria dos produtos pesquisados começa o ano um pouco acima dos valores praticados em janeiro de 2016, como o leite pasteurizado, além do UHT. Outro dirigente do Sindilat, Raul Amaral, lembrou que tais valores vêm sendo alcançados mesmo sendo verificada redução de consumo de lácteos devido à sazonalidade tradicional do período de verão e férias escolares.

Já o Conseleite de Santa Catarina aponta também pequenas variações nas cotações de janeiro/2017 se comparadas com dezembro/2016. Respectivamente, para o leite acima do padrão, o valor referência foi de R$ 1,214 contra R$ 1,188; para o leite padrão, R$ 1,055 contra R$ 1,033; para o leite abaixo do padrão, R$ 0,959 contra R$ 0,939. Os dados parciais do MilkPoint Radar, aplicativo que monitora cerca de 500 produtores, informava, em meados de janeiro, que o preço médio praticado era, então, de R$ 1,292, praticamente o mesmo do mês anterior.

Segundo o aplicativo, até o momento, o mercado não apresenta uma tendência única para os preços, mas indica que as variações foram relativamente pequenas. Completando o leque dos indicadores, o Conseleite do Paraná, reunido no dia 17 de janeiro, apontou o preço de referência para o leite padrão: R$ 1,306, referindo-se à matéria-prima com 3,50% de gordura, 3,10% de proteína, 400 mil células somáticas /ml e 300 mil ufc/ml de contagem bacteriana.

Ao conferir todos esses números, o analista Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, não tem dúvida de que o mercado do leite está ganhando sustentação. “Prova disso é que os preços no mercado spot e no atacado já subiram”, diz. Segundo levantamento realizado na primeira quinzena de janeiro, o leite comercializado entre as indústrias alcançou preço médio de R$ 1,259 por litro, posto na plataforma, uma alta de 7,2% em relação a quinzena anterior. Em Minas Gerais os negócios ocorreram, em média, em R$1,269 por litro, um aumento de 5,3% na comparação quinzenal.

Salário mínimo eleva os custos
Os custos de produção da pecuária leiteira aumentaram em janeiro de 2017, segundo o Índice Scot Consultoria, que apontou alta de 0,6% em relação a dezembro do ano passado. Destaque para o custo com os colaboradores, em função do reajuste de 6,5% no salário mínimo, além disso, combustível (2,8%), defensivos (1,7%) e fertilizantes (0,3%) ficaram mais caros. “Por outro lado, houve queda nos preços dos alimentos concentrados, com destaque para o milho e farelos”, cita Ribeiro.

Na comparação com janeiro do ano passado, os custos de produção da atividade acumulam valorização de 5,4%. A expectativa para 2017 é de uma maior disponibilidade de grãos (milho e soja) e, consequentemente, queda nos preços dos alimentos concentrados. No entanto, observa ele, o dólar pode trazer surpresas, caso a conjuntura externa valorize a moeda norte-americana, deixando mais caro os produtos importados.

Ribeiro cinta ainda que a balança comercial de lácteos terminou 2016 com déficit de US$ 484,52 milhões, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O déficit aumentou 401,5% em relação a 2015. É o maior desde 2013. As exportações brasileiras de produtos lácteos caíram 29,6% na comparação com 2015, totalizando 51,82 mil toneladas.

“Esse desempenho sofrível pode ser explicado em função da queda da produção e da alta de preços dos produtos nacionais, gerando menor competitividade no mercado internacional. Além disso, importantes clientes, como a Venezuela, reduziram as compras em 2016”, relata, observando que as importações aumentaram 80,6% em volume em 2016, comparado com 2015, totalizando 242,57 mil toneladas de lácteos.

Para 2017 alguns indicativos levam a crer que as importações de lácteos devem ser menores. “Apesar das recentes quedas nos preços dos produtos no mercado internacional existem sinais de recuperação das cotações, devido a menor oferta mundial. Atualmente, o preço médio do leite em pó está em US$ 3.283,00/t, 50,0% mais que há um ano”, destaca. A expectativa de melhora gradual na produção nacional também deve contribuir para o cenário.

Tabela 1
Preços pagos pelos laticínios (brutos) e recebidos pelos produtores (líquidos) em JANEIRO/17 referentes ao leite entregue em DEZEMBRO/16

tabela1

Fonte: Cepea-Esalq/USP

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