Pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, mostra que, o preço do leite captado outubro fechou a R$ 2,8065/litro (“Média Brasil”), queda de 2,6% em relação ao mês anterior. O valor, contudo, ainda é 36,2% maior que o registrado em outubro/23, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de outubro).
A desvalorização do leite cru é explicada sobretudo pela expectativa de aumento da oferta. Sazonalmente, o retorno das chuvas da primavera eleva a disponibilidade e a qualidade de pastagens, contexto que favorece a produção de leite. Além disso, pesquisas do Cepea mostram que a demanda por insumos ligados à nutrição animal seguiu aquecida em outubro, o que têm mantido o ritmo de crescimento da oferta de leite cru.
Contudo, o atraso das chuvas em algumas regiões e o excesso em outras limitaram o crescimento da oferta em outubro, assim como o menor poder de compra do pecuarista nos últimos dois meses – já que os custos com nutrição animal seguem subindo. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea teve, dessa forma, alta de apenas 0,4% de setembro para outubro, considerando-se a Média Brasil.
Esse cenário de pressão sobre as cotações do leite cru, no campo, e para os lácteos, na indústria, deve permanecer no último bimestre
Mesmo com o aumento tímido da produção, a disponibilidade interna de lácteos subiu em outubro, devido à elevação das importações e à queda nas exportações de derivados. Dados da Secex indicam que, em outubro, as compras externas subiram 11,6%, chegando a 208,5 milhões de litros em equivalente leite (7,4% maiores que as do mesmo período do ano passado), enquanto os embarques caíram expressivos 65,9%, somando 4,6 milhões de litros em equivalente leite (46,6% menores na comparação anual).
As oscilações nos preços dos derivados também pressionaram as cotações do leite ao produtor em outubro. A pesquisa do Cepea realizada com o apoio da OCB mostra fortalecimento da tendência de desvalorização dos lácteos depois da segunda quinzena de outubro, ao passo que os estoques dos derivados têm crescido. O mesmo ocorreu no caso do leite spot: em Minas Gerais, houve queda de 4,4% no preço médio da segunda quinzena de outubro, que passou para R$ 3,15/litro. E esse movimento de redução ganhou força, de modo que a média mineira caiu mais 6% na primeira quinzena de novembro, chegando a R$ 2,96/l.
Esse cenário de pressão sobre as cotações do leite cru, no campo, e para os lácteos, na indústria, deve permanecer no último bimestre. A dificuldade do setor não é lidar com a queda em si, mas com a falta de previsibilidade dos negócios. A instabilidade do mercado e a incerteza sobre o posicionamento de concorrentes têm elevado a cautela dos agentes e encurtado o horizonte da tomada de decisão. Isso é ainda mais complicado nesse momento de alta nos custos de produção e de possível estreitamento de margens no campo, elevando a dificuldade dos agentes em mensurar o potencial de oferta e em determinar as variações nos preços.
Preços líquidos – não contém frete e impostos. Valores nominais. | ||||||||
BA | GO | MG | SP | PR | SC | RS | BRASIL | |
jun-24 | 2,4175 | 2,7774 | 2,7869 | 2,7040 | 2,8169 | 2,7579 | 2,6747 | 2,7524 |
jul-24 | 2,3193 | 2,7276 | 2,8101 | 2,7003 | 2,7353 | 2,6370 | 2,6193 | 2,7225 |
ago-24 | 2,4471 | 2,7271 | 2,8755 | 2,7523 | 2,7695 | 2,6706 | 2,6587 | 2,7607 |
set-24 | 2,5966 | 2,8093 | 2,9927 | 2,8420 | 2,9178 | 2,8060 | 2,7180 | 2,8657 |
out-24 | 2,6443 | 2,7270 | 2,9254 | 2,7796 | 2,8255 | 2,7736 | 2,7736 | 2,8065 |
variação mensal | 1,83% | -2,93% | -2,25% | -2,20% | -3,16% | -1,16% | 2,05% | -2,07% |
Nota: a partir de janeiro de 2023, o Cepea mudou a forma de nomear as informações que divulga, identificando os dados pelo mês da captação do leite cru, e não mais pelo mês do pagamento. Maiores informações estão disponibilizadas no site do Cepea. |