O Brasil deverá ser exceção na tendência mundial de queda para a produção de leite neste ano. A aposta está na grande produção dos grãos e na recuperação das margens, que deverá levar a uma retomada da atividade
O ano de 2017 começou, e junto com ele a expectativa de tempos melhores, principalmente na economia brasileira. Um dos melhores motivos é o recorde da produção nacional de grãos, divulgada pela Conab-Companhia Nacional de Abastecimento. A estimativa para a safra plantada em 2016 e que será colhida neste ano é de 215,3 milhões de t. A previsão favorece a expectativa de que o PIB da agropecuária poderá crescer 5% no primeiro e segundo trimestre, e até de 7% a 10% no ano.
O impacto da agropecuária no PIB total tem efeito multiplicador em outros setores, por favorecer a compra de insumos da produção de grãos, da carne e leite, como é a aquisição de máquinas e equipamentos, fertilizantes, mão de obra, transportes etc. O aumento da renda na agropecuária amplia a demanda por bens de consumo. Outro bom motivo para o otimismo é de que o ano de 2016 fechou com redução da inflação e da taxa de juros, em comparação com 2015.
Brasil fará a diferença
A tendência mundial para a produção de leite é de queda, mas o Brasil pode ser a exceção neste cenário. A baixa demanda dos principais países importadores de lácteos, somada aos preços baixos pagos ao produtor, projeta um cenário de retração na produção, mas no Brasil, a produção tende a se recuperar, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que o crescimento da produção de leite na União Europeia desacelere. As primeiras estimativas apontam crescimento de apenas de 0,3% (a menor taxa em oito anos), em parte, explicado pela baixa demanda do mercado chinês.
Na Nova Zelândia, que é a maior exportadora de lácteos, em decorrência de fatores climáticos verificados, pode ocorrer um declínio da produção, com diminuição de até 6% da produção total. Na Austrália, os produtores estão sofrendo com a alta dos custos de produção e, portanto, não devem aumentar o volume produzido. Os Estados Unidos, que mantiveram crescimento por muitos anos, passa por uma redução da margem líquida, o que deverá frear o crescimento da produção.
Na América do Sul, a Argentina, com chuvas em excesso, demanda interna fraca e baixos preços internacionais, sinaliza para um primeiro semestre de 2017 sem crescimento. O Uruguai, que também sofreu com variações climáticas e forte queda nos preços em 2016, prevê aumento no custo de produção, principalmente em relação ao concentrado, que pode limitar a produção.
No Brasil a produção de leite manteve o crescimento por décadas, porém, nos últimos anos, o aumento do volume foi muito pequeno. O Sul foi a região que apresentou a maior taxa de mudança, como pode ser observado na figura 1, e responde por 35,1% da produção nacional. O Sudeste é a segunda região em produção, com volume que totaliza 34,0% do total.
Com a expectativa da grande produção dos grãos e diante de um cenário de recuperação das margens, pode ocorrer uma retomada da atividade. Contribui para esta expectativa positiva a queda esperada nos preços do milho e do farelo de soja, que são dois importantes componentes da alimentação concentrada, principalmente para rebanhos leiteiros.
Sobre o preço do leite
O Rabobank projeta que os preços globais dos produtos lácteos voltarão a subir no primeiro semestre, acima de US$ 3.000/t, podendo chegar no final do ano com valores de US$ 3.400/t. Esta perspectiva pode ser atribuída, em parte, à diminuição no ritmo da produção e ao reflexo do prolongado período de preços baixos. Entretanto, os elevados estoques mundiais e a demanda enfraquecida poderão manter os preços no mesmo patamar.
O preço do leite pago ao produtor brasileiro, corrigido pela inflação de 2016, foi semelhante a 2015. Em 2016 o preço aumentou de maio até agosto em cerca de US$ 50/100kg de leite devido à falta de oferta, que foi 6% menor que no ano anterior. Na figura 2 está representada a média brasileira do preço bruto pago ao produtor. Em 2015, o preço médio foi de R$ 1,02/litro, e em 2016, de R$ 1,34, com pico de alta em setembro de R$ 1,63/litro e o menor valor em janeiro com R$ 1,06 por litro de leite.
Importações de produtos lácteos
Em 2015 e 2016 ocorreram grandes importações de produtos lácteos, cerca de 200 milhões de litros por mês, mas provavelmente diminuirão à medida que a diferença entre o preço nacional e mundial for diminuindo.
A Nova Zelândia está exportando para mais de 140 mercados, sendo a China o maior comprador, com 21% do total comercializado. Um dos principais produtos é o WMP, concentrado proteico de soro para a recombinação ou usado diretamente na formulação de produtos infantis.
O Brasil deverá continuar comprando no mercado internacional. Se os preços dos lácteos mantiverem o patamar atual será mais atrativo para a indústria importar a matéria-prima que comprar no País. O leite é um produto que apresenta alta volatilidade dos preços e o mercado responde direta e rapidamente à oferta do produto, e qualquer oscilação pode causar um grande impacto, principalmente no setor primário.
É desafiador realizar alguma projeção econômica mais precisa para o leite em 2017, principalmente no mercado brasileiro, onde os produtores não atuam na formação dos preços e os consumidores realizam suas compras com base na renda e na praticidade.