Produção nacional de leite deve ter aumento tímido de 1,5% em 2025

Perspectiva é fruto da desaceleração econômica e das importações do produto que bateram recorde em 2024

 

Marcos Giesteira: Texto 

Fotos: Wenderson Araujo/Trilux

A economia em desaceleração somada à oferta recorde de leite importado no mercado nacional devem limitar a expansão da produção nacional em 2025. O aumento modesto de 1,5% será possibilitado pela alimentação concentrada mais acessível para os animais.

A projeção, da Embrapa Gado de Leite, foi apresentada durante a coletiva de balanço do agro em 2024 e as perspectivas para 2025 da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), realizada quarta-feira (11), em Brasília.

Segundo o documento divulgado pela entidade, o consumo, que já dá sinais de arrefecimento na reta final de 2024, e a entrada do leite vindo de países do Mercosul, competindo com a produção interna e exercendo pressão de baixa no mercado brasileiro, são fatores decisivos nesse contexto.

Na opinião do assessor técnico da CNA, Guilherme Dias, o produtor vem fazendo o “dever de casa”, investindo em genética e tecnologias produtivas. A produção confinada também vem ganhando cada vez mais espaço, o que gera uma certa previsibilidade de preços, porém oferece aos produtores maiores riscos de mercado.

Conforme ele, a gestão de risco da atividade será fundamental para o setor conseguir crescer em 2025. “Ter uma estratégia de compra de insumos, principalmente aqueles que mais oneram a produção, como a alimentação concentrada, é fundamental para o setor se desenvolver”, ressaltou.

Uma das alternativas que vem sendo discutida é a criação de um mercado futuro do leite. De acordo com Dias, um grupo de trabalho vem discutindo estratégias para estruturar um contrato de comercialização futura do leite na bolsa de valores, assim como acontece com o mercado do boi.

“Isso permitirá que os produtores tenham um seguro de preços e eliminem esse entrave bastante grave da atividade que é a falta de previsibilidade de preços. Dessa forma, será possível planejar melhores investimentos na atividade e promover um ambiente favorável para investimentos de longo prazo”, prevê ele.

O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Ronei Volpi (foto) também reforça a necessidade dos produtores saberem antecipadamente o valor que receberão pelo produto. Na visão dele, o novo patamar do dólar permite uma condição mais favorável para enfrentar a competição com os vizinhos exportadores do Mercosul. Ao menos no curto prazo.

Entre os desafios estratégicos do setor, ele aponta a necessidade de aumento do volume de produção para abastecer plenamente o mercado brasileiro sem depender de importações, principalmente de leite em pó e queijo tipo muçarela, que este ano surpreendeu pela quantidade comprada. Aumentar a competitividade e a participação no mercado internacional também estão na lista de metas.

“O Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo hoje, mas só exporta 20% da produção. Os outros 80% da produção nacional são destinados ao mercado interno. A nossa expectativa, no médio prazo, é que o setor lácteo alcance uma situação semelhante”, afirmou Volpi.

Impactos climáticos – Os menores níveis de desemprego aqueceram a demanda e contribuíram para o escoamento da produção de leite em 2024. A alimentação concentrada exerceu menor pressão sobre os custos de produção, mas as enchentes no Rio Grande do Sul, a seca prolongada no Sudeste e Centro-Oeste e a ocorrência de incêndios limitaram o incremento em produtividade.

A produção brasileira praticamente permaneceu estável (1,1%) na comparação anual, atingindo 18,3 bilhões de litros de leite captados nos primeiros nove meses de 2024 e em patamares similares aos de 2019. Nesse contexto, a projeção é que a captação formal deverá encerrar 2024 em 24,8 bilhões de litros, ao passo que a produção total deverá atingir 35,79 bilhões.

“Procuramos falar sempre em recuperação, uma vez que tivemos alguns anos de produção abaixo dos maiores níveis que nós verificamos em anos anteriores. Podemos dizer que o volume de produção nacional de leite tem andado de lado”, resumiu Dias.

Quanto às importações, o Brasil internalizou volume recorde de janeiro a novembro, 2,1 bilhões de litros de leite, um aumento de 6,6% ante o ano anterior. Países do Mercosul seguiram como principais fornecedores, respondendo por 96% do volume. As exportações, apesar do melhor desempenho em 2024 e da alta de 28,7%, alcançaram 79 milhões de litros, índice considerado ainda incipiente diante das importações.

Em relação aos preços, houve leve recuperação nos valores ao produtor, que subiram 2,8% em 2024 (janeiro a outubro), na comparação com o mesmo período de 2023. Já os preços aos consumidores subiram em maior proporção, com o IPCA do leite e derivados tendo alta de 11,6% até outubro, puxados, principalmente, pela inflação de 24% no leite longa vida.

Apesar da melhora, Volpi considera que os valores recebidos pelos produtores ainda não são compatíveis com os custos de produção. Outro fator que interfere é a variabilidade no mercado consumidor.

“A cada mês, o produtor brasileiro de leite tem uma surpresa positiva ou negativa com relação aos preços recebidos. Em alguns momentos os consumidores demandam mais leite UHT. Em outros, queijo, e aí temos uma concorrência extremamente grande por parte do Mercosul”, disse o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA.

PIB do agronegócio – De acordo com a CNA, o PIB do Agronegócio deve crescer em 2025, mas os cenários externo e interno – como política fiscal, câmbio, inflação e taxa Selic –são desafiadores para os produtores rurais brasileiros.

A entidade avaliou que o avanço do PIB poderá chegar a 5% em 2025 e será impulsionado pelo aumento da produção primária agrícola, com destaque para os grãos, e pelo crescimento da indústria de insumos e da agroindústria exportadora.

No mercado externo, ainda que a conclusão das negociações do acordo Mercosul-União Europeia tenha sido anunciada na primeira semana de dezembro, o cenário continuará desafiador e conturbado com o acirramento nas tensões entre as principais economias mundiais, e com as sanções do próprio bloco europeu aos produtos agropecuários brasileiros por meio de medidas como a Lei Antidesmatamento (EUDR).

 

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